Arena do Pavini - Mercado vê Selic caindo para 7% esta semana e segue atento à inflação oficial, reforma previdenciária e eleições 2018
A primeira semana de dezembro promete momentos de tensão nos mercados locais. No cenário político, pelas incertezas que persistem em torno da reforma da Previdência. Do lado econômico, diante da definição de variáveis importantes como a inflação oficial de novembro com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a ser conhecida na sexta-feira, e do novo patamar da Selic (juro básico da economia), que será fixado entre terça e quarta-feira na última reunião do ano do Comitê de Politica Monetária (Copom) do Banco Central.
O juro deve cair de 7,5% ao ano para 7%, o menor nível desde o real e uma das menores taxas da história, menor que os 7,25% de 2013. Diferentemente daquela época, porém, analistas acreditam que esse nível de juros não é artificial e pode se manter por todo o ano que vem, ou até cair mais. E, se as reformas forem feitas, pode ficar nesse patamar por vários anos. Nesta reunião, como o corte é praticamente consenso, os analistas devem ficar atentos ao comunicado que acompanhará o anúncio, e que pode dar pistas sobre se os cortes vão parar agora ou continuarão em fevereiro.
Ainda na terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta os dados da produção industrial de outubro. Serão divulgados na semana também o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, na segunda-feira, e na quinta-feira o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas, ambos relativos ao mês de novembro.
Haverá ainda a reação dos mercados à aprovação pelo Senado dos Estados Unidos do projeto que reduz os impostos de empresas e pessoas de 35% para 20%. A medida deve incentivar a economia dos EUA, mas pode pressionar a inflação e o déficit público e levar o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a subir mais rápido os juros.
Fixação de data para votação será vista como sinal positivo
De olho na reforma previdenciária, que precisa ir para votação na Câmara, em duas sessões que poderão ocorrer nos próximos dias 12 e 13 de dezembro, analistas acreditam que o simples fato de o presidente da casa, Rodrigo Maia, vir a marcar data para votação, já poderá ser visto como um indicativo de que o governo “conseguiu” os 308 votos necessários.
Em jantar previsto para hoje (domingo), na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o presidente Temer e lideranças dos partidos que formam a base do governo, além do governador Geraldo Alckmin( PSDB), se discutiria justamente os caminhos para conseguir votos para aprovação da reforma.
Na avaliação do economista-chefe da Home Broker Modalmais, Alvaro Bandeira, boa parte da volatilidade e queda de preços dos ativos na semana passada foi provocada por inconstância das posições de políticos em relação à reforma, incluindo a própria posição ‘mutante’ de Maia. Relatório do BNP Paribas (PA:BNPP) também avalia que as negociações em torno da reforma previdenciária e agendamento de uma data para que seja votada será o principal foco dos mercados locais.
Para Bandeira, se o governo conseguir adesões e a votação for marcada, “a resposta dos mercados poderá ser rápida”, com perspectivas positivas.
Eleições 2018: Lula lidera pesquisas, seguido por Bolsonaro
Em outro destaque da cena política, o presidente Michel Temer esteve em São Paulo nesse sábado e, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que o desembarque dos tucanos do governo acontecerá “de forma cortês e elegante”. A movimentação de Temer acabou perdendo espaço no noticiário com a divulgação de nova pesquisa eleitoral do Datafolha.
Os números mostram a ampliação da liderança do ex-presidente Lula no primeiro turno, e a consolidação de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no segundo lugar, distante dos demais pré-candidatos, entre eles o próprio governador paulista, Ciro Gomes (PDT) e o ministro Henrique Meirelles (PSD).
Lula vence também todos os adversários nas simulações do segundo turno, mas permanece a incerteza de sua candidatura caso seja condenado em segunda instância. Em relação a Alckmin, a expectativa é de que seja eleito presidente nacional do PSDB no dia 9/12 e, assim, comece a viabilizar sua candidatura à presidência da República compondo com as forças de centro e de direita.
Marina lança pré-candidatura
Após disputar as duas últimas eleições (2010 e 2014), Marina Silva (Rede) lançou sua pré-candidatura no sábado, em Brasília. Ela repetiu o discurso de reunir “pessoas competentes” de diferentes partidos em seu futuro governo e de “não mexer nos fundamentos da política econômica”. Sem alianças, ela terá pouco tempo de televisão no horário gratuito eleitoral (12 segundos).
Expectativa de novo corte de 0,5 ponto percentual na Selic
A última reunião do ano do Copom, na visão de diversos analistas, entre os quais os do banco Fator, poderá ser também a última do ciclo de queda da Selic, iniciado em fins de julho de 2016. Em relatório, a equipe estima que a divulgação do resultado do PIB do terceiro trimestre, na última sexta-feira, não muda perspectiva para a decisão do comitê: queda de 50 pontos (0,5 pp) na Selic, para 7%, e sinalização de cautela. A consultoria LCA também prevê queda da Selic para 7% ao ano.
Juro pode não parar em 7%
A equipe de analistas do BNP Paribas é outra que ressalta em relatório esperar que o BC continue reduzindo a taxa básica. “Espera-se que uma combinação da inflação abaixo do alvo e uma recuperação do crescimento induzam o BCB a continuar cortando; vemos espaço para mais cortes e projetamos a taxa terminal em 6,50% em março próximo — sendo 50 pb (0,5 ponto percentual) de corte em dezembro, seguido de mais dois cortes de 25 pb (0,25 pp) em fevereiro e março de 2018”. O Itaú (SA:ITUB4) também trabalha com uma taxa Selic de 6,5% no ano que vem.
IPCA de novembro deve registrar desaceleração para casa de 0,3%
O IPCA de novembro, para os analistas da Rosenberg Associados (RA), deve registrar variação de 0,32%, menor do que a observada no mês anterior, com taxa mensal de 0,42%. Na comparação em 12 meses, a taxa deve continuar subindo, segundo a consultoria, passando de 2,7% para 2,8% — ainda abaixo do piso do regime de metas de inflação do BC, de 3,0%.
Na margem, a equipe destaca o aprofundamento da deflação do grupo Alimentos e Bebidas, disseminada dentre os itens in natura. “Na contramão, a subida de preço dos combustíveis deve pressionar o grupo Transportes, a despeito da deflação do item passagem aérea”, dizem os economistas da RA.
Gradual Investimentos e LCA estimam que a variação mensal do indicador relativa a novembro deve ficar em 0,35% e 0,33%, respectivamente. Relatório do Banco Fator trabalha com projeção de uma desaceleração no IPCA de novembro para 0,36% na margem, resultando em uma alta para 2,89% na comparação interanual.
Produção Industrial deve ter recuperação
A produção industrial de outubro, segundo estimativas da Rosenberg Associados, deve apresentar um aumento de 7% interanual, taxa elevada que se deve ao maior número de dias úteis e à baixa base de comparação (houve queda de 7,2% interanual em outubro/16, a maior do segundo semestre do ano passado). “Na margem, continuamos com recuperação – crescimento de 0,8% em relação a setembro”, dizem os analistas.
Produção, Venda e Exportação de Veículos
Na sexta-feira, a Anfavea, que reúne os fabricantes de veículos, divulgará dados do setor automobilístico relativos a novembro. As exportações, lembra relatório do banco Fator, têm explicado quase metade da recuperação da produção nacional de veículos. O ritmo de recuperação do setor tem sido forte, na variação interanual, desde a virada do ano. Mas, como em todos os indicadores de atividade, verifica-se instabilidade nos resultados mês contra mês anterior.
Os indicadores do setor automobilístico de novembro são importantes, de acordo com a consultoria RA, para entender o ritmo de crescimento do quarto trimestre, ainda mais com o diferencial gerado pelas promoções da Black Friday.
EUA divulgam taxa de desemprego e criação de vagas formais
No exterior, destaca Alvaro Bandeira, da Modalmais, exceto pelo constrangimento geopolítico, sobretudo com a Coreia do Norte, a tendência é que a situação vá se acalmando no resto do mundo.
A equipe do banco Itaú avalia que os destaques da semana no cenário externo serão as divulgações da taxa de desemprego e criação de emprego formal dos EUA, na sexta-feira, ambos relativos ao mês de novembro. O Senado americano aprovou, na madrugada de sábado, a reforma tributária proposta pelo presidente Donald Trump, que prevê o corte dos impostos de pessoas e empresas.
Europa apresenta dados do PIB
Na Europa, a primeira preliminar do Produto Interno Bruto (PIB), que sairá na terça-feira, deve corroborar os dados antecedentes, que indicavam manutenção do ritmo mais forte de crescimento observado ao longo do terceiro trimestre de 2017, segundo previsão da Rosenberg Associados.
Bandeira lembra ainda que no Reino Unido e Alemanha existem boas chances do Brexit andar um pouco e Angela Merkel começar a se movimentar para formar coalisão e governar sem ter que passar por novas eleições.
China – resultado da Balança Comercial sai na quinta-feira, dia 7
A economia chinesa continua no centro dos preços das commodities, o que é determinante para a taxa de câmbio de países exportadores de tais produtos e para as suas exportações, destaca o Banco Fator. Na quinta-feira, serão conhecidos os resultados de novembro da balança comercial daquele país.
Bolsa: economista vê espaço para recuperação
À parte a dinâmica interna, na economia como um todo, analisa o economista Alvaro Bandeira, o quadro é de recuperação, como sinalizam projeções divulgadas por FMI, Banco Mundial, OCDE, entre outros. “Assim, não vemos motivos para sustos ou preocupações — e os mercados já estão reagindo, como evidenciam os recordes do mercado americano na semana passada”, completa. “Entramos em dezembro com boas expectativas que podem afetar os mercados locais e recuperação dos preços dos ativos, com a volta de investidores locais e estrangeiros”, diz Bandeira, lembrando que a B3 (SA:BVMF3) saiu quase sem escala de 78.000 pontos para perto de 71.000 pontos. “Há muito espaço para recuperação.”