Por Linda Sieg e David Brunnstrom
TÓQUIO/WASHINGTON (Reuters) - O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, viajará para Washington na quinta-feira com a esperança de que as promessas de criar empregos nos Estados Unidos e fortalecer os militares japoneses irão persuadir o presidente norte-americano, Donald Trump, a conter sua retórica sobre comércio e moeda e preservar a aliança de décadas entre os países.
Garantias de segurança dadas pelo secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis, e outros autoridades apaziguaram as preocupações japonesas. Mas o Japão teme que Trump saia do roteiro quando os dois líderes se reunirem, primeiro em uma cúpula na capital norte-americana na sexta-feira e depois para uma partida de golfe perto da "Casa Branca de Inverno", na Flórida.
Em Tóquio há quem tema até que Trump possa eventualmente firmar algum pacto com a rival China que deixaria o Japão de mãos abanando.
"O que queremos saber é a atitude do senhor Trump em relação à China", disse Yukio Okamoto, ex-diplomata japonês com laços com o governo. "Se ela se tornar somente econômica, um acordo pode ser feito em algum momento sem se levar em consideração as questões de segurança na região".
Os políticos japoneses também temem que Abe faça promessas difíceis de cumprir quando os dois disputarem uma partida de golfe que lembra outra entre o avô de Abe, o também premiê Nobusuke Kishi, e o então presidente Dwight Eisenhower em 1957.
À época os jornais dos EUA apelidaram a partida de "triunfo da diplomacia" entre os dois ex-inimigos da Segunda Guerra Mundial. Três anos depois, Kishi teve que renunciar devido à revolta popular com o pacto de segurança EUA-Japão de 1960.
"O simbolismo de jogar golfe é muito importante para os japoneses", afirmou Dennis Wilder, ex-autoridade do Conselho de Segurança Nacional dos EUA. "Abe tem muito orgulho de seu avô e trabalhou duro para realizar seu sonho frustrado de firmar uma parceira estratégica plena com Washington".
Durante a campanha eleitoral, Trump reclamou que Tóquio e Seul não estão compartilhando o suficiente dos gastos do aparato de segurança dos EUA.
Trump também colocou o Japão junto com a China e o México na categoria de grandes contribuintes para o déficit comercial norte-americano, classificou seu comércio de automóveis de "injusto" e acusou Tóquio de usar a política monetária para desvalorizar sua moeda de forma a fortalecer suas exportações.
Abordando tais preocupações, o secretário-chefe de gabinete japonês, Yoshide Suga, disse nesta quarta-feira que a parcela de Tóquio no déficit dos EUA diminuiu quando comparada a seus picos históricos e que empresas japonesas têm investido significativamente nos EUA.
(Reportagem adicional de Matt Spetalnick, em Washington, e Tetsushi Kajimoto e Takashi Umekawa, em Tóquio)