BRASÍLIA (Reuters) - O vice-presidente Michel Temer se pronunciará no "momento certo" sobre sua permanência ou não à frente da articulação política do governo da presidente Dilma Rousseff, disse nesta segunda-feira o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, em meio aos crescentes rumores de que Temer deixará suas funções.
Após reunião de coordenação política com a presidente Dilma Rousseff, Kassab e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, exaltaram a importância de Temer para o governo e disseram que, mesmo que ele deixe a articulação, seguirá tendo papel fundamental na gestão Dilma.
"O vice-presidente tem sido vital na construção da agenda do governo e na sua aprovação pelo Congresso. Tenho certeza que a função que ele achar melhor que ele possa desempenhar ele vai continuar sendo um importante agente de apoio e de construção de solução", disse Barbosa em entrevista coletiva no Palácio do Planalto.
Temer tem se manifestado cada vez mais, em conversas classificadas por pessoas próximas a ele como "desabafos", sobre as dificuldades que enfrenta para exercer as funções de articulador dentro do governo.
Entre esses obstáculos, segundo uma fonte próxima ao setor de articulação do governo, estão dificuldades com os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
O primeiro tem criado empecilhos para a liberação de emendas a parlamentares aliados e o segundo, ainda de acordo com essa fonte, tem represado as nomeações de cargos de indicação por membros da base. Apesar desses desabafos, essa fonte afirmou que "ao menos por enquanto" Temer seguiria no comando da articulação.
Outras fontes ligadas à base aliada afirmam que Temer gostaria de estar envolvido na articulação "macro" e que está cansado de tratar do dia-a-dia das negociações políticas com o Congresso.
"O vice-presidente Michel Temer é colaborador permanente da presidenta e tem tido uma conduta muito correta, muito solidária ao governo, a ela", disse Kassab, que afirmou ainda que o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, um dos principais colaboradores de Temer na articulação política, manifestou que permanecerá na função enquanto Dilma considerar necessário.
"No momento certo ele (Temer) vai se posicionar, mas eu posso dizer que o próprio ministro Padilha, que faz esse trabalho em conjunto e em apoio ao vice-presidente, ele foi provocado em relação a essa questão e com muita naturalidade enfatizou que enquanto for necessária a sua presença à frente dessas funções ele o fará", disse Kassab.
De acordo com fontes ligadas à base de apoio de Dilma ouvidas pela Reuters, Padilha também está descontente com as dificuldades enfrentadas pela articulação política e gostaria de se concentrar somente nos trabalhos de seu ministério. O ministro se irritou especialmente por ter considerado que Levy descumpriu um compromisso de liberação de emendas acertado por Padilha com aliados inicialmente com a anuência do chefe da Fazenda.
"Todos sabem que o sonho do ministro Padilha é que ele possa se dedicar cada vez mais às questões referentes ao Ministério da Aviação, mas ele com muita clareza deixou claro que irá continuar se envolvendo com o tema (articulação política) enquanto for necessário por parte da presidenta", garantiu Kassab.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões)