Arena do Pavini - A semana entre os feriados de Natal e Ano Novo terá agenda econômica relativamente esvaziada. No mercado local, a B3 (SA:BVMF3) (antiga Bovespa) estará fechada na segunda e na sexta-feira. Os destaques ficam com dados primários do Governo Central e resultados fiscais, apresentados entre terça e quarta-feira, e informações sobre o mercado de trabalho relativas a novembro, que serão divulgadas na sexta-feira pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Na quinta-feira, 28, sai o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) de dezembro, indicando o valor para correção de contratos, incluindo os de aluguel, e reajustes de tarifas públicas, entre outros serviços. A agenda internacional destaca alguns dados secundários de atividade econômica nos Estados Unidos e Europa, além da divulgação de informações sobre inflação e produção industrial no Japão.
Reforma da Previdência e as eleições de 2018
Com o noticiário político também perdendo força no período em razão dos recessos do Congresso e do Judiciário, o cenário fica mais restrito às projeções da reforma da Previdência e eleição presidencial de 2018.
O presidente Temer deve retornar do descanso de Natal e continuar as articulações na Câmara para aprovar a reforma previdenciária em fevereiro. A possibilidade de aprovação, no entanto, não é consenso entre analistas de economia e política.
Apesar dos dados positivos da economia — inflação baixa, queda de juros, retomada gradual de postos de trabalho e consumo — a eleição presidencial continua no centro das atenções. E o quadro de candidaturas indefinido aumenta a incerteza sobre o futuro da reforma da Previdência, surgindo até mesmo a possibilidade de ser aprovada depois da eleição de outubro.
Candidaturas: quadro permanece indefinido
No quadro eleitoral, permanecem as dúvidas sobre os possíveis candidatos à Presidência da República. No lado da oposição, 2018 iniciará com a expectativa de julgamento do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Porto Alegre), em 24 de janeiro.
Já as forças que apoiam o governo, sem candidato definido, terão a sombra do deputado Jair Bolsonaro, que segue como principal adversário do PT, segundo as pesquisas. A expectativa de a população vir a sentir efeitos da recuperação da economia e das reformas poderia, por sua vez, favorecer o campo político de centro e direita, projetando as candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (PSD).
Resultado primário: acumulado em 12 meses pode ficar abaixo da meta
O Tesouro Nacional apresenta na terça-feira, diz 26, o resultado primário do Governo Central (Tesouro, Banco Central e Previdência) de novembro, que considera apenas despesas e receitas operacionais, sem os gastos com juros da dívida.
Em outubro, lembram os economistas do Banco Fator, o superávit de R$ 5,19 bilhões levou o resultado no acumulado de 12 meses a um déficit de R$ 204,2 bilhões. Faltando dois meses para o final do ano, o valor acumulado encontra-se aproximadamente R$ 45 bilhões abaixo da meta de déficit de R$ 159 bilhões.
Para a equipe do Fator, para atingir esta meta, mais receitas extraordinárias serão necessárias, o que não parece uma prática incomum este ano. “Nossa expectativa para novembro é de um primário deficitário em R$ 14,3 bilhões, levando a um acumulado em 12 meses de R$ 180 bi”, destaca em relatório.
Na quarta-feira, o Banco Central (BC) divulga os números completos do setor público consolidado do mês passado, adicionando ao resultado do Governo Central os dados dos Estado e municípios e das estatais federais. O Fator estima um déficit de R$ 13,5 bilhões no mês e R$ 162 bilhões no acumulado em 12 meses. O banco estima que a relação dívida pública/PIB caia de 74,40% para 74,20%.
IGP-M: previsões de 0,9% em dezembro e -0,5% no ano
Em relação ao IGP-M, que sai na quinta-feira, os economistas do banco Fator lembram que em novembro foi registrada uma taxa de 0,52%, com aceleração nas duas prévias deste mês, 0,73% na primeira e 0,88% na segunda.
Tal crescimento, ressaltam os analistas em relatório, tem como principais fatores a alta dos preços industriais, a queda na deflação dos alimentos e o aumento dos custos de transporte, principalmente pelo preço da gasolina. “Nossa expectativa (dezembro) é de (variação) 0,98% no mês e (interanual) de – 0,44%”. A previsão da consultoria LCA é de variações de 0,92% e – 0,5%, respectivamente.
Os dados de inflação são importantes para o mercado saber se o Banco Central poderá manter os juros baixos por mais tempo. A expectativa é que ele reduza os juros básicos, hoje de 7% ao ano, para 6,75% em fevereiro, podendo baixar ainda mais a taxa, para 6,5%. O juro voltaria a subir apenas no fim de 2018, dependendo ainda da eleição presidencial e da votação das reformas.
Taxa de desemprego recua, mas com redução de carteira assinada
A taxa de desemprego, prevista para ser divulgada pelo IBGE na sexta-feira, vem decrescendo há sete meses de maneira positiva, ou seja, com alta da população ocupada e queda na desocupação (chegando a 12,2% em outubro). Contudo, analisa relatório do Fator, o padrão da recuperação do mercado de trabalho manteve-se inalterado em outra dimensão não favorável — os ocupados com carteira assinada continuam em redução, havendo alta da ocupação pelos sem carteira assinada, com destaque para ocupados por conta própria. A estimativa para a taxa de ocupação (novembro) da equipe do fator é de 12%. A consultoria LCA estima 11,9% e a estimativa mediana é de 12,1%.
Agenda internacional: destaque para inflação na Alemanha e Japão
Na sexta-feira (29), será conhecida prévia do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) harmonizado da Alemanha relativa a dezembro. Os dados são coletados pela Eurostat. A inflação da Alemanha, lembra relatório do banco Fator, voltou para 1,8% ao ano em novembro, após uma leve queda para 1,6% em outubro. Destacou-se a aceleração do preço da energia, de 1,2% para 3,7%, e alta nos alimentos (3,2%), apesar da desaceleração em relação ao período anterior (4,3%).
No caso do Japão, que divulga seus dados na segunda-feira (25), o CPI desacelerou para 0,2%, frente ao resultado do mês anterior de 0,7%, na comparação interanual. O núcleo do CPI, diz relatório do Fator, cresce desde janeiro e atinge o maior valor do ano em outubro, com a taxa de 0,8%.
EUA apresentam indicadores sobre preços, consumo e atividade industrial
Na quarta-feira, dia 27, será conhecido o S&P/Case-Shiller Home Price, indicador que sinaliza a trajetória dos preços das casas nos EUA por meio de uma média móvel trimestral. No mesmo dia, sai o Consumer Confidence, que mede a confiança dos consumidores americanos, dividido nas categorias situação econômica atual do país e expectativa para o futuro. Na sexta-feira, será divulgado indicador que mede o nível de atividade industrial na região de Chicago, relativo ao mês de dezembro.
Com apenas três pregões, semana é complexa para o mercado de ações
Na avaliação do economista-chefe do home broker Modalmais, Alvaro Bandeira, a semana se revela muito complicada para se estimar comportamento, começando pelo fato de que serão realizados somente três pregões antes do término do ano.
“Tradicionalmente, em final de ano, os gestores de recursos vão paralisando operações para fechamento de balanços e resultados”, diz Bandeira. Em compensação, destaca, há aqueles que precisam fazer ajustes de posições para deixar carteiras melhor posicionadas para o novo ano. “Há ainda aqueles que acreditam num último rali, ou que desejam proteger posições fundamentais de suas carteiras”, complementa.
Bandeira lembra que é nesse ambiente que a B3 vai se desenvolver. “Se juntarmos o ambiente político e econômico complicado, o quadro fica ainda mais complexo; a liquidez diária em contração é só mais uma dificuldade”, afirma. “Colocamos isso no ambiente local, mas vale para quase todos os mercados do mundo; na prática, queremos dizer que o ano já acabou, e os movimentos serão marginais.”
Início de 2018 na bolsa: demora para engrenar e movimentos de baixa consistência
O próximo ano, para o economista, começa nesse espírito e deve demorar para engrenar. “No Brasil, ainda teremos recesso do Congresso e Judiciário e o noticiário também escasseia. Mas os mercados não param, e os movimentos podem ser erráticos e de baixa consistência”.
De acordo com Bandeira, fazendo uso da análise técnica, com base nos gráficos, o Índice Bovespa terá que se sustentar acima de 75.100 pontos para tentar, em seguida, buscar área próxima do recorde já conquistado, acima de 78.000 pontos. “Porém, temos forçosamente que associar isso com o melhor encaminhamento da reforma da Previdência, crucial para que os mercados reajam com mais consistência, e não na forma de gangorra”, conclui.
Por Arena do Pavini