(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro defendeu as manifestações deste domingo, se juntou a uma multidão em frente ao Palácio do Planalto, mesmo com o pano de fundo do surto do coronavírus, e disse que um entendimento dos Poderes com o povo vai mudar o país, o que gerou reação dos líderes do Legislativo.
"Isso não tem preço, não existe satisfação maior para um ser humano, para um político, do que isso", disse Bolsonaro, em referência ao apoio dos manifestantes, em uma transmissão ao vivo em rede social que durou mais de uma hora.
"Todos nós, políticos, chefes de Poderes, estamos no mesmo barco", disse. "Tenho certeza, um entendimento nosso com o povo, não é entre nós não, é nosso com o povo, a gente muda o Brasil", disse.
As manifestações deste domingo vinham sendo convocadas por grupos de apoio ao presidente, mas também para protestar contra o Congresso e contra o Judiciário. Bolsonaro, no entanto, classificou neste domingo os atos como um "movimento patriótico" e minimizou as críticas aos demais Poderes.
"Não estão lutando contra Poder nenhum, estão lutando pelo Brasil", disse. "Não é contra nada, é a favor do Brasil."
Devido ao aumento de casos do novo coronavírus no pais, o próprio Bolsonaro havia feito um apelo na quinta-feira para que as manifestações deste domingo fossem repensadas.
Autoridades e especialistas têm sugerido que sejam evitadas grandes aglomerações de pessoas. Isso não impediu, no entanto, que uma multidão compacta se juntasse diante do Palácio do Planalto.
O presidente Bolsonaro vinha publicando vídeos de manifestações pelo país em suas redes sociais desde o início da manhã deste domingo.
Ao começar a transmissão ao vivo em frente ao Planalto, o presidente ainda disse: "com tudo contra, imprensa, vírus, recomendações, o povo foi às ruas".
A expectativa era que o próprio presidente se resguardasse neste domingo. Após ser divulgado que o secretário de Comunicação de Presidência, Fabio Wajngarten, foi infectado com o coronavírus, Bolsonaro realizou um teste que teve resultado negativo.
Mas Bolsonaro ainda deve passar por outro exame para confirmar que não está infectado devido ao tempo de encubação do vírus.
Ainda assim, o presidente tocou muitas pessoas que estavam diante do Planalto, além de ter pego diversos celulares para tirar selfies com apoiadores.
O repetido apoio do presidente às manifestações tem gerado descontentamento entre parlamentares e no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de Bolsonaro afirmar que os atos só visavam apoiar o governo ou o país, havia entre os manifestantes cartazes com duras críticas aos demais Poderes.
Em Brasília mesmo, em uma manifestação, uma faixa tinha os dizeres: "Contra os vírus do STF e do Congresso, álcool e fogo!".
No Rio de Janeiro, onde centenas de pessoas se reuniram na praia de Copacabana, também não faltaram ataques aos líderes do Congresso.
“Fora Alcolumbre, fora Rodrigo Maia, fora esses canalhas que acabam com o Brasil”, disse o manifestante Daniel Silva, com máscara e cartaz na mão, referindo-se ao presidente do Senado e Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
“Sou brasileira patriota e quero esse país limpo. Não tem coronavírus que me impeça de defender o Brasil contra a patifaria do Congresso”, disse Claudia Santos à Reuters.
À noite, Maia e Alcolumbre, dois dos alvos dos protestos, reagiram à participação de Bolsonaro, especialmente em função da situação da pandemia do coronavírus, e pediram responsabilidade ao presidente.
"O mundo está passando por uma crise sem precedentes... Há um esforço global para conter o vírus e a crise", disse Maia no Twitter.
"Por aqui, o Presidente da República ignora e desautoriza o seu ministro da Saúde e os técnicos do ministério, fazendo pouco caso da pandemia e encorajando as pessoas a sair às ruas. Isso é um atentado à saúde pública que contraria as orientações do seu próprio governo", acrescentou.
Em nota, Alcolumbre disse que "é hora de amadurecermos como nação".
"Com a pandemia do coronavírus fechando as fronteiras dos países e assustando o mundo, é inconsequente estimular a aglomeração de pessoas nas ruas", disse o presidente do Congresso.
"A gravidade da pandemia exige de todos os brasileiros, e inclusive do presidente da República, responsabilidade! Todos nós devemos seguir à risca as orientações do Ministério da Saúde", continuou Alcolumbre.
"Convidar para ato contra os Poderes é confrontar a Democracia. É tempo de trabalharmos iniciativas políticas que, de fato, promovam o reaquecimento da economia, criem ambiente competitivo para o setor privado e, sobretudo, gerem bem-estar, emprego e renda para os brasileiros."
Mais tarde, em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro procurou minimizar a crise do coronavírus e disse que em outras epidemias não não houve tanta histeria em reação, como classificou o comportamento atual.
(Por Alexadre Caverni, em São Paulo; reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)