BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta segunda-feira o delegado Rolando Alexandre de Souza como novo diretor-geral da Polícia Federal, depois de ter tido a indicação de seu nome preferido, Alexandre Ramagem, bloqueada por liminar do Supremo Tribunal Federal (STF).
A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União nesta segunda-feira no mesmo momento em que Souza já tomava posse como diretor-geral em uma cerimônia fechada, no gabinete do presidente no Palácio do Planalto.
De acordo com foto publicada nos canais oficiais da Presidência, estavam presentes apenas Bolsonaro, os ministros palacianos --Walter Braga Netto (Casa Civil), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo)-- e os ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa), André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
A cerimônia rápida e fechada não estava na agenda oficial do presidente e só foi informada em uma atualização enviada à imprensa depois de ter acontecido. A transmissão do cargo ainda não foi marcada.
Ramagem, que com a anulação de sua nomeação voltou para a diretoria-geral da Abin e foi o responsável pela indicação de Souza a Bolsonaro, não estava presente.
Souza era diretor de Planejamento da Abin, o número três da agência, mas um dos principais assessores de Ramagem. Ele foi levado para o cargo por Ramagem em setembro do ano passado.
Souza foi chefe do núcleo de operações da PF em Rondônia e corregedor do órgão no mesmo Estado, onde conheceu Ramagem, então superintendente da PF. Também foi chefe do Serviço de Repressão a Desvio de Recursos Públicos da PF, em Brasília, e superintendente em Alagoas, onde estava até setembro, quando foi chamado por Ramagem para a Abin.
Uma fonte com conhecimento da corporação disse que Souza tem experiência e um perfil técnico para chegar ao comando da PF, mas admite que ele assume num momento delicado.
Essa fonte avalia que não é hora para se fazer mudanças em lotações sensíveis, como os delegados que conduzem o inquérito sobre as declarações de Moro contra Bolsonaro e a chefia da Superintendência da PF no Rio, local onde o presidente publicamente já externou interesse em fazer alterações.
A intenção de Bolsonaro, já declarada publicamente, era de indicar novamente Ramagem para o posto. No entanto, uma nova nomeação poderia ser vista como descumprimento de determinação legal --o que é crime de responsabilidade. Além disso, uma nova ação contra a indicação cairia novamente com Moraes, o que deveria levar a um mesmo resultado.
Bolsonaro ainda não desistiu de tentar levar Ramagem de volta para a PF. No entanto, o presidente não queria deixar a direção-geral do órgão por muito tempo nas mãos da equipe anterior, montada pelo ex-diretor Maurício Valeixo e o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.
Com a derrubada da nomeação de Ramagem, estava à frente da PF Disney Rossetti, ex-número dois de Valeixo. Rossetti chegou a ser indicado para assumir a PF por Moro, quando ficou claro que Bolsonaro exigiria a troca do diretor-geral.
Segundo o próprio ex-ministro, ele chegou a indicar Rossetti para que não houvesse uma quebra de continuidade, apesar de afirmar que não conhecia bem o delegado. O presidente negou. A saída de Valeixo e a determinação de Bolsonaro de indicar um nome seu para a PF levaram à demissão do ex-ministro da Justiça, que acusou o presidente de interferência política.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu; reportagme adicional de Ricardo Brito)