Por Roberto Samora e Marta Nogueira
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -Os preços do biodiesel colocados nas distribuidoras do Brasil estão oscilando perto dos menores níveis desde julho do ano passado, de acordo com um levantamento da agência Argus, o que deverá se refletir em impacto quase nulo do custo do biocombustível no diesel nos postos, após a mudança da mistura na sexta-feira.
O mercado tem observado uma boa oferta de óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel no Brasil, permitindo que a mistura de biodiesel no diesel passe de 12% para 14% a partir de 1º de março sem sobressaltos, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.
"Quando acontece essa mudança de dois pontos na mistura não deve ter aumento de preço significativo justamente porque no momento os preços da matéria-prima e, portanto do biodiesel, estão deprimidos", afirmou especialista em combustível da Argus, Amance Boutin.
As quedas refletem os altos estoques do óleo vegetal no mundo, as incertezas sobre a demanda na China e a safra maior de soja na Argentina. Além disso, apesar da quebra na colheita do Brasil, maior produtor global da oleaginosa, a produção ainda será a segunda maior da história, conforme dados do setor.
A produção de soja do Brasil em 2024 está estimada em 153,8 milhões de toneladas, afirmou a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) na véspera.
Além da oferta da matéria-prima, o Brasil tem grande capacidade ociosa de biodiesel, o que tem levado o setor a pedir antecipação de misturas maiores.
Segundo dados da Argus, especializada em preços e serviços de consultoria, o preço do biodiesel mais o frete, posto na distribuidora na região de Paulínia (SP), está em torno de 4,06 reais por litro, versus contra 3,53 reais do diesel A da Petrobras (BVMF:PETR4) na refinaria paulista.
"No caso, aqui é diferença de 15%, em outras regiões a diferença é um pouco maior... colocando dois pontos percentuais (de biodiesel), é um aumento residual mesmo", afirmou ele.
Segundo Boutin, a situação favorece o governo, que tem falado sobre a necessidade de ter estabilidade de preços nos combustíveis.
Ele estimou que o Nordeste deverá ter um maior impacto no preço por conta da mistura maior, pois a região deficitária em termos de produção do combustível, e os custos do frete encarecem.
"Nessa região (Nordeste), o sobrecusto vindo deste aumento de mescla é de 2,5 centavos por litro... nas outras regiões, estamos entre de 1 e 1,5 centavo por litro", estimou.
O sócio-diretor da Raion Consultoria, Eduardo Oliveira de Melo, destacou que o custo médio do biodiesel acumula queda de 8% este ano, o que minimiza o impacto da transição da mistura de biodiesel.
"O impacto sobre o preço final do óleo diesel será irrelevante. Isto se justifica pela queda recente dos preços do biocombustível (B100), para níveis próximos ao do diesel fóssil, não gerando assim impacto significativo quando da alteração do mix de composição dos seus componentes", disse ele.
Silvio Roman, diretor de Biodiesel do Grupo Delta Energia e diretor do Conselho Administrativo da Associação dos Produtores de Biodiesel (Aprobio), concorda.
"No momento, não (haverá grandes impactos no preço nos postos). Até mesmo por causa disso... Super safras (de soja), o mundo inteiro com safras altas, a commodity então está em baixa. Como o biodiesel é precificado através do (óleo da) soja, ele está em baixa também, com preço abaixo até mesmo do diesel", afirmou, pontuando que o biodiesel é um combustível importante para a transição energética, permitindo a redução de emissão de CO2.
Os preços globais da soja negociados na bolsa de Chicago estão oscilando perto dos menores patamares em cerca de três anos, enquanto a commodity responde por cerca de 70% da matéria-prima do biodiesel.
Nesta quinta-feira, a soja era cotada a cerca de 11,40 dólares por bushel no mercado de referência do EUA.
(Por Roberto Samora, em São Paulo, e Marta Nogueira, no Rio de JaneiroEdição de Pedro Fonseca)