Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou nesta segunda-feira um convite para o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, explicar a visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, a Roraima, na última semana, depois de um grupo tentar barrar as sabatinas de indicados para embaixadas marcadas para esta semana.
De acordo com o senador Telmário Mota (PROS-RR), o ministro já aceitou o convite e a audiência acontecerá na próxima quinta-feira.
A senadora Kátia Abreu (PP-TO), membro titular da comissão, disse que a intenção é que Araújo dê explicações convincentes sobre a visita, da qual ele participou pessoalmente. Na visita a Boa Vista, de pouco mais de três horas, Pompeo fez críticas ao governo do presidente da Venezuelate Nicolás Maduro.
A visita foi encarada como um operação midiática do governo do presidente dos EUA, Donald Trump, em um momento em que o presidente norte-americano está em campanha para reeleição e, de acordo com as últimas pesquisas, atrás do democrata Joe Biden nos levantamentos nacionais.
"Se as explicações não convencerem os senadores, aprovaremos uma moção de censura contra o chanceler. Isso afeta diretamente a carreira e a reputação do diplomata", disse a senadora.
Durante o final de semana, um grupo de senadores, incluindo Kátia e Telmário, entre outros, articulou uma reação à atuação do Executivo no apoio à visita do secretário norte-americano, e foi cogitada a suspensão das sabatinas dos indicados para chefiarem embaixadas.
Para serem indicados aos cargos aos quais foram designados, os diplomatas precisam passar por essa etapa, terem suas nomeações aprovadas pela comissão e depois pelo plenário do Senado. A CRE iniciou sua reunião nesta segunda-feira com 32 nomes represados, inclusive o do indicado a embaixador na Argentina, Reinaldo de Almeida Salgado.
Na reunião, o presidente da comissão, Nelsinho Trad (PSD-MS), defendeu que as sabatinas deviam seguir como marcadas para evitar mais prejuízo às relações internacionais do país. No que então aprovou-se o convite e uma nota de repúdio.
O colegiado analisou 11 indicações na manhã desta segunda para embaixadas do Brasil na Zâmbia, nos Países Baixos, Ucrânia, Dinamarca e Irlanda, entre outros.
A visita de Pompeo, a 40 dias das eleições norte-americanas, foi vista por vários parlamentares como uma interferência indevida do governo brasileiro no processo, ao dar palanque ao governo Trump, o que o presidente Jair Bolsonaro tem feito com alguma regularidade ao destacar sua preferência pela reeleição de Trump.
Além disso, a presença de Pompeo dando declarações agressivas contra o governo venezuelano também foi considerado uma violação da tradicional política de independência e não intervenção da diplomacia brasileira.
Em nota, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o episódio "afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa."
Bolsonaro defendeu a visita em suas redes sociais. "A visita do secretário de Estado @SecPompeo à Operação Acolhida, em Boa Vista/RR, em companhia do @ItamaratyGovBr (Ministro @ernestofaraujo), representa o quanto nossos países estão alinhados na busca do bem comum", escreveu, acompanhado de uma foto sua com Trump.
Nesta segunda, o vice-presidente Hamilton Mourão minimizou o caso. "Um pessoal criticou, eu respeito as críticas de ex-chanceleres, do presidente da Câmara, mas eu não vi nada demais. Nós temos um alinhamento com os Estados Unidos desde a época da nossa independência", disse a jornalistas ao chegar no Palácio do Planalto. "Pompeo foi ver uma operação do Estado brasileiro, organizada pelo Exército."
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)