Investing.com – Os cortes nas taxas de juros previstos para acontecer em breve nos EUA podem ser “insuficientes e tardios” para evitar uma recessão no país, na visão dos analistas da BCA Research.
Em um relatório recente, a casa de análise afirmou que os efeitos da política monetária manifestam-se após um período, e as condições econômicas atuais são o reflexo das medidas de aperto anteriormente implementadas. Dessa forma, a flexibilização das condições financeiras por parte do banco central americano pode não surtir o efeito esperado no tempo necessário.
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A empresa salienta ainda que, apesar de uma recente inclinação dos mercados a um cenário de risco com um “pouso suave”, tal otimismo pode ser precipitado.
"É alta a probabilidade de a economia dos EUA entrar em recessão dentro de um prazo de seis a doze meses", declararam os analistas, mesmo com a perspectiva de reduções nas taxas de juros. “Historicamente, os ciclos de relaxamento monetário não foram capazes de evitar recessões”.
Segundo o Monitor de Juros do Fed, fornecido pelo Investing.com, atualmente o mercado precifica uma chance de 40% de um corte mais agressivo de 0,50% da taxa na próxima reunião do BC americano.
Os valores de mercado das principais empresas de tecnologia recuaram em agosto, devido ao aumento das preocupações com os custos da infraestrutura de inteligência artificial (IA) e aos crescentes riscos de recessão, o que poderia tornar essas ações particularmente vulneráveis em caso de retração do mercado.
Além disso, o relatório da BCA destaca que o ímpeto de crescimento global continua a ser desigual.
O relatório argumenta que é improvável que a China compense a potencial redução da demanda dos EUA, dado seu estímulo "tímido e inadequado". Isso poderá resultar em sérios desafios para a economia global, afetando negativamente as moedas asiáticas e outros ativos sensíveis ao ciclo econômico.
Segundo a BCA, a perspectiva para a economia chinesa ainda é desanimadora, mas a firma considera que as avaliações atuais oferecem alguma proteção contra queda. Por isso, mantêm uma posição favorável às ações onshore e neutra para as ações offshore em relação a outros mercados.
A BCA prevê ainda que os preços do petróleo se manterão estáveis num intervalo de negociação a curto prazo, mas projeta que a diminuição da demanda global prevalecerá a longo prazo, levando a uma tendência de queda nos preços do petróleo.
Dados de emprego de agosto definirão velocidade dos cortes de juros
Em outra frente, os analistas do Bank of America (NYSE:BAC) consideram que o relatório de empregos de agosto, excluindo o setor agrícola, será decisivo na formulação da política de cortes de juros pelo Federal Reserve.
O banco prevê um aumento de 200.000 empregos urbanos, acima do consenso, e uma redução na taxa de desemprego para 4,2%. "Os dados de emprego de agosto serão fundamentais para definir a velocidade dos cortes do Fed no curto prazo. Basicamente, vislumbramos três cenários para a política do Fed", declara o BofA.
No primeiro cenário, um relatório robusto sobre empregos mitigaria as preocupações com uma recessão e resultaria em cortes mais cautelosos, com o Fed provavelmente implementando reduções de apenas 25 pontos-base por trimestre a partir de setembro.
O BofA considera que isso poderia surpreender o mercado, que atualmente antecipa cerca de 100 pontos-base de cortes.
No segundo cenário, um relatório moderado, com o crescimento do emprego entre 100.000 e 150.000 e a taxa de desemprego estabilizada em 4,3%.
"Em nossa análise, um relatório como este não confirmaria nem descartaria uma recessão, mas indicaria que a ativação da Regra Sahm não foi um evento isolado", explica o BofA. "Pensamos que o Fed ajustaria sua expectativa para cortes de 25 pontos-base em todas as reuniões restantes do ano. O gráfico de pontos poderia indicar mais de 100 pontos-base de cortes para o próximo ano. No entanto, um corte de 50 pontos-base em setembro ainda não está previsto, em nossa opinião."
No terceiro e mais preocupante cenário, um fraco relatório de empregos — como uma geração de vagas de trabalho abaixo de 50.000 ou um aumento adicional no desemprego — aumentaria os temores de recessão.
O BofA sugere que o Fed poderia responder agressivamente com cortes de 50 pontos-base em setembro, novembro e dezembro.
Em última análise, "os detalhes importam", na visão do banco, e o Fed considerará a totalidade dos dados ao tomar suas decisões.