Por Alexandra Valencia
QUITO (Reuters) - Manifestantes equatorianos paralisaram os transportes e fizeram barricadas nas ruas pelo segundo dia, nesta sexta-feira, quando 370 pessoas foram presas devido a distúrbios provocados pela decisão do presidente Lenin Moreno de retirar subsídios ao combustível.
O presidente de 66 anos colocou o Equador, país produtor de petróleo, em um caminho de centro depois de anos de regime de esquerda sob Rafael Correa e está implementando um pacote de aperto fiscal para cumprir um acordo de 4,2 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mas a eliminação dos subsídios ao combustível que durava décadas irritou muitos equatorianos e desencadeou protestos violentos em uma nação com um histórico de volatilidade política.
Desde a capital, Quito, até a cidade costeira de Guayaquil muitos serviços de ônibus e táxis foram interrompidos, enquanto manifestantes bloquearam vias com pneus, pedras e galhos, embora em menor número do que no dia anterior.
Na quinta-feira, dia em que os preços dos combustíveis subiram, manifestantes mascarados atiraram pedras, instalaram bloqueios e confrontaram policiais, que usaram carros blindados e gás lacrimogêneo durante a pior agitação em anos no país de 17 milhões de habitantes.
Os sindicatos de transporte lideraram os protestos, que contaram também com grupos indígenas, estudantes e outros sindicatos. Líderes dos protestos disseram que as manifestações vão continuar e convocaram uma greve nacional para a próxima quarta-feira.
A popularidade de Moreno caiu para menos de 30% em comparação com mais de 70% após a eleição de 2017, mas sua posição política parece firme, com o apoio da elite empresarial, lealdade militar e ausência de uma oposição forte.
No entanto, os equatorianos estão cientes de que os protestos derrubaram três presidentes durante turbulências econômicas na década anterior à ascensão de Correa ao poder em 2007.
Moreno declarou estado de emergência por 60 dias em todo o Equador. Soldados e policiais vigiavam o palácio presidencial no centro de Quito.
Até o início da noite de sexta-feira, 368 pessoas tinham sido presas, principalmente em Quito e Guayaquil, informou o Ministério do Interior. Saques foram relatados em Guayaquil. As autoridades dizem que 59 policiais haviam ficado feridos, uma dúzia de carros da polícia destruídos e um prédio do governo local foi atacado.
O líder dos caminhoneiros, Luis Vizcaino, pediu diálogo com o governo. "Todos os setores de transporte do Equador estão em crise... temos que nos sentar... precisamos chegar a uma medida intermediária", disse ele à TV local. O líder do sindicato dos taxistas, Jorge Calderón, estava entre os detidos.
Os preços do diesel subiram de 1,03 dólar para 2,30 dólares por galão de 4,5 litros na quinta-feira, e a gasolina foi de 1,85 dólar para 2,39 dólares.
Moreno disse estar aberto a negociações, mas ressaltou que não havia possibilidade de restaurar os subsídios aos combustíveis que, segundo ele, danificaram a economia e custaram aos cofres do Estado 60 bilhões de dólares ao longo dos anos.
"Haverá mecanismos para aliviar o impacto em alguns setores", afirmou. "Mas ouçam com clareza: não vou mudar a medida, o subsídio acabou."