Por Samia Nakhoul e Yara Abi Nader
BEIRUTE (Reuters) - Uma explosão gigantesca em armazéns no porto de Beirute matou mais de 70 pessoas, feriu mais de 2.750 e provocou ondas de choque que estilhaçaram janelas, danificaram edifícios e fizeram estremecer o chão da capital libanesa nesta terça-feira.
Autoridades disseram que o número de mortos deve crescer, à medida que equipes de emergência escavam os destroços para resgatar pessoas e retirar os mortos. Foi a mais poderosa explosão em anos a atingir Beirute, que já sofre com uma crise econômica e a pandemia de coronavírus.
O ministro do Interior do Líbano afirmou que informações iniciais indicavam que material altamente explosivo, apreendido anos atrás, estava armazenado no porto e havia explodido.
Israel, que já travou diversas guerras contra o Líbano, negou qualquer tipo de envolvimento e ofereceu ajuda.
"O que estamos testemunhando é uma enorme catástrofe", afirmou o diretor da Cruz Vermelha no Líbano, George Kettani, à rede Mayadeen. "Há vítimas e mortos por toda parte".
Horas após a explosão, que aconteceu pouco depois das 18h (horário local), um incêndio ainda ardia no distrito portuário, projetando um brilho alaranjado no céu noturno, enquanto helicópteros sobrevoavam e sirenes de ambulância soavam por toda a capital.
Uma fonte da área de segurança disse que vítimas foram levadas para tratamento fora da cidade pois os hospitais de Beirute estavam lotados de feridos. Ambulâncias da Cruz Vermelha do norte e do sul do país e do vale do Beca, no leste, foram chamadas para ajudar.
A explosão foi tão grande que alguns moradores de Beirute, onde ainda estão vivas as memórias dos bombardeios pesados durante a guerra civil que durou entre 1975 e 1990, pensaram estar passando por um terremoto. Pessoas atordoadas, feridas e chorando andavam pelas ruas procurando parentes.
"Eu prometo que esta catástrofe não passará sem que os culpados sejam responsabilizados", disse o primeiro-ministro, Hassan Diab, em pronunciamento ao país. "Os responsáveis pagarão o preço", disse em um discurso televisionado, acrescentando que os detalhes do "perigoso depósito" que explodiu seriam tornados públicos.
O ministro do Interior disse ao canal de televisão Al Jadeed que nitrato de amônio era armazenado no porto desde 2014.
Imagens da explosão compartilhadas por moradores da cidade nas redes sociais mostram uma coluna de fumaça subindo do porto seguida por uma enorme explosão, provocando uma bola de fogo e uma nuvem branca no céu. Pessoas que filmavam o incidente a partir de edifícios altos a 2 quilômetros do porto foram arremessadas para trás pela onda de choque.
Não ficou imediatamente claro o que causou o foco de incêndio inicial que provocou a explosão.
O ministro da Saúde do Líbano disse que ao menos 78 pessoas foram mortas e que mais de 2.750 ficaram feridas. A Cruz Vermelha libanesa disse que centenas de pessoas foram levadas a hospitais.
O governador do porto de Beirute disse ao canal Sky News que uma equipe de bombeiros que estava combatendo o incêndio inicial havia "desaparecido" após a explosão.
O presidente Michel Aoun convocou uma reunião de emergência do Conselho Supremo de Defesa. O primeiro-ministro pediu um dia de luto na quarta-feira.
O poderoso movimento libanês do Hezbollah disse que todas as forças políticas do país devem superar a "dolorosa catástrofe" depois da explosão.
Um navio da força-tarefa marítima da ONU no Líbano que estava atracado no porto de Beirute foi danificado, e alguns militares da força de paz ficaram feridos na explosão, disse a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil).
(Reportagem de Samia Nakhoul, Yara Abi Nader e Laila Bassam; Reportagem adicional das redações de Dubai, Beirute e Cairo)