No primeiro ano do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), houve um aumento na venda de produtos bélicos para o exterior. O país exportou US$ 1,47 bilhão (aproximadamente R$ 7,1 bilhões). É 19% a mais que no 1º ano do governo de Jair Bolsonaro (PL) e 127% a mais que no último.
Ainda assim, o valor não ultrapassou o recorde de vendas, registrado em 2021. Naquele ano, o país exportou US$ 1,71 bilhão. Mas as vendas arrefeceram no ano seguinte e voltaram a crescer logo depois.
“A exportação da BID [Base Industrial de Defesa] brasileira em 2023 representa muito mais do que números expressivos. Significa geração de empregos, diretos e indiretos, de toda uma cadeia muito importante para a economia brasileira“, disse o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, ao Poder360.
Dentre os principais motivos para o aumento em 2023 estão o acirramento dos conflitos na Europa e no Oriente Médio e o aumento na meta de gastos militares dos países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para 2% do orçamento. Há 11 países abaixo desse piso que estão ampliando as compras dentre os 31 associados.
Um dos itens mais procurados do Brasil por esses países é a aeronave da Embraer (BVMF:EMBR3) KC-390. É um cargueiro com capacidade para carregar até 26 toneladas de itens para as Forças Armadas.
Mas não se trata só de produtos da Embraer. Segundo o presidente do Condefesa (Conselho Temático da Indústria de Defesa), da CNI, Mario Cezar de Aguiar, a lista de itens exportados é ampla, e tem como principais produtos munições, sistemas de artilharia, aeronaves e blindados.
Os principais importadores de produtos de defesa do Brasil são os Estados Unidos e países europeus. Mas, segundo Mario Cezar, há interesse crescente dos países vizinhos, Oriente Médio, Ásia e África.
O ministério da Defesa trata esses dados com reserva. Tanto os principais produtos quanto os principais compradores são sigilosos. Caso contrário, a exposição dessas compras poderia comprometer estratégias de defesa desses compradores.
“Essas tensões [na Ucrânia e Gaza] provocam mundialmente a busca por ter meios de defesa em prontidão caso os conflitos tomem uma proporção maior, isso envolve não apenas a compra de novos armamentos e munições, mas também a modernização de equipamento militar, bem como de outros produtos de defesa, como sistemas e tecnologias“, disse Mario Cézar ao Poder360. Ele é presidente da Fiesc (Federação da Indústria de Santa Catarina), além de presidir o Condefesa.
Para o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, a exportação de produtos de defesa significa ampliação do número de empregos no país, dado o alto valor agregado e a tecnologia envolvida no processo Mario Cézar ponderou, no entanto, que o Brasil não vende a países em conflito. “O país não vende diretamente a países em conflito, devido a seus princípios de política externa de não intervenção e solução pacífica de conflitos e seus compromissos internacionais, assim as maiores vendas são para países afetados pelas tensões, destacando-se que dentre os produtos de defesa apenas cerca de 2% do que vendemos são armas e munições, somos ricos em tecnologias e sistemas“, disse.
Gargalos em jogo
Por se tratar de produtos de alto valor agregado, e de valor alto, essas exportações costumam recorrer aos seguros da ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias). Neste ano, porém, a agência estava sem dotação orçamentária para operar.
Segundo Mario Cézar de Aguiar, as exportações neste ano não contaram com os seguros.
O governo Lula retirou a agência da lista de privatizações, elaborada no governo de Jair Bolsonaro. A consequência prática foi que, sem contrato com o governo, houve a necessidade de refazer toda a burocracia para que ela pudesse voltar a operar.
Só em julho houve a regularização da situação, mas ainda assim sem que houvesse dotação orçamentária o suficiente para segurar vendas para o exterior.
A expectativa no setor é que em 2024 a agência volte a operar normalmente e, com isso, haja ampliação das exportações.
“Podemos citar uma série de gargalos, como financiamentos e garantias, grande estigma sobre o setor, irregularidade de demandas, restrições de exportação e regulamentos internacionais e desafios de produção e cadeia de suprimentos“, disse Mario Cézar.