Por Eduardo Simões e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta quinta-feira em Atibaia, interior de São Paulo, pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado, em cumprimento de mandado expedido pela Justiça do Rio de Janeiro, informaram os MPs paulista e fluminense.
Queiroz foi preso em um imóvel que pertence ao advogado Frederick Wassef, segundo o Ministério Público de SP. O advogado representa Flávio Bolsonaro e também atua para o presidente na investigação sobre o atentado a faca que Bolsonaro sofreu na campanha eleitoral de 2018.
Wassef, que ainda não se manifestou sobre o caso, esteve no Palácio do Planalto na quarta-feira, onde acompanhou a posse de Fábio Faria no Ministério das Comunicações. O advogado, que tem uma base em Brasília, tem se reunido com alguma frequência com Bolsonaro, em encontros dentro e fora da agenda oficial.
O mandado expedido pela Justiça fluminense se refere às investigações sobre o esquema conhecido como "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio. Queiroz foi assessor de Flávio Bolsonaro quando o atual senador era deputado estadual no Rio. A suspeita é de apropriação e desvio de parte dos salários dos servidores do gabinete do parlamentar.
De acordo com o MP do Rio, outras medidas cautelares determinadas pela Justiça estão sendo cumpridas no Rio de Janeiro.
O endereço de um dos imóveis alvos de mandado de busca fica no mesmo local em Bento Ribeiro, zona norte do Rio de Janeiro, onde Bolsonaro declarou ter casa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na eleição de 2018. A Reuters teve acesso ao mandado que mostra que a busca e apreensão foi determinada nesse endereço, mas na casa de número 31. Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral ser proprietário da casa de número 15.
"Na manhã desta quinta-feira, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Civil efetuaram a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, na cidade de Atibaia", informou o MP paulista em nota.
"Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça do Rio, a pedido do Grupo de Combate à Corrupção (Gaecc) do Ministério Público daquele Estado, que investiga a participação de Queiroz em um esquema de desvio de vencimentos de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A transferência para o Rio ocorrerá ainda hoje."
De acordo com o MP do Rio, a operação desta quinta foi batizada de Anjo e também teve como alvo de medidas cautelares servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Estado.
"Contra outros suspeitos de participação no esquema, o MPRJ obteve na Justiça a decretação de medidas cautelares que incluem busca e apreensão, afastamento da função pública, o comparecimento mensal em Juízo e a proibição de contato com testemunhas", afirmou o MP fluminense.
No Twitter, o senador Flávio Bolsonaro disse que encara com tranquilidade a prisão de Queiroz e afirmou que a operação desta quinta é um movimento para atacar seu pai.
"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu o senador.
A Reuters também tentou contato com Wassef e enviou e-mail ao Palácio do Planalto, mas ainda não obteve resposta.
As investigações sobre o alegado esquema de "rachadinha" começaram em 2018, quando foi deflagrada a operação Furna da Onça.
O ponto de partida para as investigações envolvendo Queiroz e Flávio Bolsonaro foi uma movimentação financeira atípica de mais de 1 milhão de reais nas contas do ex-assessor parlamentar. A suspeita é que os recursos fossem resultado da "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio.
Queiroz é policial militar aposentado e amigo da família Bolsonaro, inclusive do presidente.
Ele não apareceu mais em público após o escândalo e chegou a faltar a depoimentos no MP do Rio sobre o caso, alegando problemas de saúde. Queiroz esteve internado, em 2018, em São Paulo para uma tratamento contra um câncer.
(Reportagem adicional de Leonardo Benassatto, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)