Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - Um ano atrás, o chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, mantinha uma "perspectiva notavelmente positiva" para uma economia que desfrutava de uma combinação "historicamente rara" de boas notícias, incluindo baixo desemprego, inflação estável e forte crescimento --com todos devendo continuar.
Quando o Fed se reunir nesta semana, a discussão será sobre quanto dessas perspectivas foi minada e se as autoridades ainda devem descrever suas ações como simples ajustes numa política correta ou se passaram a travar uma luta mais agressiva para manter a recuperação dos EUA nos trilhos.
A ampla expectativa é que o Fed corte os juros em mais 0,25 ponto percentual na próxima quarta-feira. Mais importante, a linguagem do BC dos EUA e as novas projeções econômicas mostrarão quão profundamente uma série de problemas foi sentida --desde a intensificação da guerra comercial EUA-China e o relançamento de estímulos "à la crise" pelo Banco Central Europeu (BCE) até um conjunto de fracos dados do setor manufatureiro que pode sugerir problemas maiores para os Estados Unidos.
"No final de 2018, parecia que a economia estava avançando de maneira contínua e sólida", disse David Wilcox --até o fim do ano passado era diretor da divisão de estatística e pesquisa do Fed e hoje membro do Instituto Peterson para Economia Internacional.
"Os riscos eram predominantemente positivos e não era proeminente em nossa tela de radar ou de ninguém que as tramas da guerra comercial fossem ser levadas para o patamar em que estão... As notícias de fora, por amplo consenso, foram decepcionantes."
O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se reúne na terça e na quarta-feira, com Powell devendo falar em coletiva de imprensa na sequência.
A provável ação do Fed de reduzir a meta de taxa de juros para um intervalo entre 1,75% e 2,00%, esperam os formuladores de política monetária, impulsionará a economia, aliviando os custos de empréstimos desde financiamento para carro a títulos corporativos.
Novas projeções a serem divulgadas na quarta-feira mostrarão se as autoridades consideram que o cenário está piorando e quanto mais acham que precisam ir em termos de redução de taxas de juros ou outras medidas para se anteciparem a qualquer problema em curso.
É uma decisão difícil que tem dividido as autoridades do Fed entre aqueles que querem cortar os juros rápida e intensamente, aqueles que querem ir devagar e aqueles que não querem fazer absolutamente nada.
A "gama de pontos de vista", como Powell chama, reflete a incerteza dos últimos 12 meses, época que pode ser vista como uma das feridas autoinfligidas que empurraram os Estados Unidos --e o mundo-- de um período de crescimento estável e amplo para uma potencial estagnação.
Os indicadores econômicos dos EUA têm vindo mistos desde a última reunião do Fed em julho.
O investimento das empresas tem permanecido fraco. Os indicadores da produção industrial caíram. O crescimento do emprego desacelerou.
Ainda que tenha vindo abaixo dos 130 mil esperados, o número de empregos criados em agosto é mais do que suficiente para absorver mão de obra que ingressa no mercado de trabalho e manter a taxa de desemprego em 3,7%.
O crescimento dos salários tem continuado, e "os consumidores continuam sendo a locomotiva da economia", disse Michael Feroli, economista do JPMorgan, depois que as vendas no varejo aumentaram em agosto mais do que o esperado.
"Há poucas razões para esperar uma redução no curto prazo", pois as famílias se beneficiam de um mercado de trabalho apertado e, se o Fed reduzir as taxas de juros conforme o esperado, diminuirá os custos para financiar reformas nas casas ou outras grandes compras.
Em seus últimos comentários públicos antes da próxima reunião do Fed, Powell descreveu o mercado de trabalho dos EUA como em "uma posição bastante forte" e minimizou qualquer risco de recessão nos Estados Unidos.
No entanto, não é apenas com os dados dos EUA que Powell está preocupado.
Com os países desenvolvidos preocupados com tendências mais estruturais, como o envelhecimento populacional e a baixa produtividade que todos parecem compartilhar, cada vez mais as autoridades norte-americanas também estão observando a estagnação agora endêmica na Europa e a luta geracional do Japão para manter o crescimento e imaginando o que precisam fazer para evitar o mesmo destino.