Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A extensão do auxílio emergencial para o ano que vem tem sido analisada pela equipe econômica como saída para a estruturação de um novo formato de distribuição de renda em meio às dificuldades do governo para colocar de pé o novo Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, segundo fonte do Ministério da Economia com conhecimento direto do assunto.
De acordo com a fonte, que falou em condição de anonimato, o desenho que está na mesa seria de levar para 2022 o valor do Bolsa Família acrescido do auxílio para que os dois pagamentos, somados, resultassem num benefício de 300 reais.
A mesma fonte pontuou que essa solução está sendo estudada em meio às dificuldades políticas para aprovação da reforma do Imposto de Renda, que compunha a equação do governo para viabilizar o aumento do programa social.
Originalmente, o ministro Paulo Guedes queria a viabilização do Auxílio Brasil garantida por duas frentes. Para que o programa ficasse dentro da regra do teto de gastos, o governo contava com a diminuição da salgada conta de sentenças judiciais para o ano que vem, de quase 90 bilhões de reais, a partir da aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios.
Já para garantir a fonte de financiamento do programa, uma exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, o ministro insistia na necessidade de aprovação da reforma do IR, que prevê a tributação de dividendos com esse fim. A reforma já passou na Câmara, mas ainda não foi apreciada no Senado.
De acordo com a fonte, a saída para o benefício de 300 reais vem "a partir do Planalto", com concordância dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), "até porque você não pode deixar de ter consenso no problema da ajuda social".
Mais cedo nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo deverá resolver nesta semana detalhes sobre a extensão do auxílio emergencial e também de medidas referentes ao preço do diesel no país.
"Se Deus quiser, nós resolveremos esta semana a extensão do auxílio emergencial, como devemos resolver também esta semana a questão do preço do diesel", disse.
O atual auxílio emergencial, que paga entre 150 a 375 reais por mês a beneficiários do Bolsa Família e outros vulneráveis, tem a última parcela prevista para pagamento este mês.
Ao mesmo tempo em que a medida é vista como importante para ajudar quem ficou desprotegido com a pandemia e ainda tem enfrentado a diminuição do poder de compra diante da aceleração da inflação, ela é também encarada como ferramenta para alavancar a popularidade e as chances de Bolsonaro se reeleger no próximo ano.
O público-alvo do auxílio emergencial, de mais de 45 milhões de pessoas, é substancialmente maior do que o do Bolsa Família (14 milhões de famílias).