Por Yury Garcia e Alexandra Valencia
GUAYAQUIL/QUITO (Reuters) - Homens armados com explosivos invadiram uma emissora de TV que estava no ar no Equador na terça-feira, durante uma onda de violência em todo o país que levou o presidente Daniel Noboa a nomear 22 gangues como organizações terroristas a serem caçadas pelos militares.
A polícia prendeu os 13 homens que invadiram o estúdio da TC durante uma transmissão ao vivo, enquanto em outros lugares pelo menos sete policiais foram sequestrados e houve várias explosões.
"Graças a Deus, estamos vivos, porque foi um ataque extremamente violento", disse Jorge Rendon, vice-diretor do programa de notícias que foi interrompido.
Noboa, que assumiu o cargo em novembro prometendo conter a violência relacionada às drogas, declarou estado de emergência por 60 dias na segunda-feira em resposta à violência nas prisões -- incluindo sequestros de guardas por detentos -- e a aparente fuga do líder da gangue Los Choneros, Adolfo Macias, no fim de semana.
Em um decreto revisado na terça-feira, Noboa reconheceu um "conflito armado interno" e identificou quase duas dúzias de gangues como grupos terroristas, incluindo o Los Choneros.
O governo disse que a violência é uma reação ao plano de Noboa de construir uma nova prisão de alta segurança e transferir líderes de gangues presos. "Eles criaram uma onda de violência para amedrontar a população", disse o almirante Jaime Vela, chefe do comando conjunto das Forças Armadas, acrescentando que o decreto tornou as gangues alvos militares.
As transferências de líderes de gangues para as prisões têm historicamente levado à violência, com centenas de presos mortos nos últimos anos. As guerras de gangues pelas lucrativas rotas de contrabando de cocaína também alimentaram a instabilidade.
O Peru declarou emergência ao longo de sua fronteira com o Equador, enquanto outras nações sul-americanas, Brasil, Colômbia e Chile, expressaram apoio ao governo de Noboa, e a China fechou sua embaixada e consulados até segunda ordem.
INVASÃO AO VIVO
A tomada do estúdio da TC em Guayaquil foi transmitida por cerca de 20 minutos. Homens usando balaclavas e, em sua maioria, vestidos de preto, empunhavam armas e abordaram os funcionários que se amontoavam no chão.
Foram ouvidos tiros e gritos, e alguns dos invasores fizeram gestos para a câmera.
"Eles atiraram na perna de um dos nossos cinegrafistas e quebraram o braço de outro. Eles fizeram disparos", acrescentou Rendon. "A polícia chegou em minutos, cercou a estação de TV e as unidades táticas intervieram."
A TC, que transmite nacionalmente, compartilha um local com outra emissora pública, a Gamavision, e várias estações de rádio.
Os agressores entraram pela recepção da Gamavision, agredindo os funcionários e deixando dinamites para trás, disse à Reuters o coordenador de notícias e repórter da TC, Leonardo Flores Moreno, afirmando que ele e outras pessoas em uma reunião conseguiram se esconder.
A polícia disse que confiscou explosivos e armas, e mostrou imagens de jovens ajoelhados com as mãos amarradas.
O canal voltou ao ar para seu noticiário noturno, com âncoras dizendo que o gabinete do procurador-geral estava no local coletando provas. Dois funcionários ficaram feridos, segundo o canal.
Na cidade de Machala, no sul do país, em Quito e na província de Los Rios, sete policiais foram sequestrados em três incidentes, informou a polícia anteriormente. Os três policiais sequestrados em Machala foram libertados no final da terça-feira, informou a polícia, e dez prisões foram efetuadas.
A polícia confirmou explosões em Esmeraldas e Los Rios, enquanto as prefeituras de Cuenca e Quito confirmaram outras, e o gabinete do procurador-geral disse que estava investigando uma em Guayaquil. A mídia também relatou explosões em Loja e Machala.
GUARDAS PENITENCIÁRIOS CAPTURADOS
A agência penitenciária SNAI disse na terça-feira que um grupo de prisioneiros escapou de uma penitenciária em Riobamba, incluindo o acusado de pertencer a uma gangue, Fabricio Colon Pico, suspeito de um complô contra o procurador-geral. Dezessete dos 39 fugitivos foram recapturados, informou o gabinete do promotor.
Onze agentes penitenciários tomados como reféns nos últimos dois dias foram libertados, acrescentou o SNAI, mas 139 agentes e outros funcionários ainda estão detidos.
As autoridades de Guayaquil disseram que houve incidentes de "tomada de controle" em cinco hospitais, mas que a polícia e os soldados haviam restabelecido a ordem. Não ficou claro o que os incidentes envolveram.
Imagens de vídeo nas mídias sociais mostraram homens armados nas ruas, trânsito parado e um helicóptero sobrevoando Guayaquil. As lojas e escritórios fecharam mais cedo em Quito.
"Eles nos disseram para sair mais cedo do trabalho", disse um morador de Quito. "Em geral, há um sentimento de medo."
Alguns equatorianos estão questionando os esforços de Noboa para controlar a violência. Ele planeja um plebiscito este ano com foco na segurança.
As mortes violentas aumentaram para 8.008 em 2023, quase o dobro do número de 2022.
(Reportagem de Alexandra Valencia, em Quito, e Yury Garcia, em Guayaquil; reportagem adicional de Tito Correa e Karen Toro)