(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula acusou nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de trabalhar para prejudicar o país, sinalizando que indicará um sucessor para o cargo de chefe da autarquia que seja "sério, responsável e imune aos nervosismos momentâneos do mercado".
"O presidente do Banco Central não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, tem lado político e, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar", disse Lula em entrevista à Rádio CBN.
De acordo com o presidente, o comportamento da autarquia é a única "coisa desajustada" no Brasil no momento e a taxa de juros não pode ser "proibitiva" para setores produtivos. Ele disse ser "triste" a possibilidade de o BC deixar a Selic, agora em 10,50%, inalterada.
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) anunciará sua decisão sobre a taxa Selic, com ampla expectativa do mercado de manutenção dos juros no patamar atual, encerrando um ciclo de sete cortes consecutivos.
Economistas consultados pela autoridade monetária em sua pesquisa Focus passaram a ver que não haverá mais cortes de juros neste ano, em meio ao aumento das incertezas nos cenários doméstico e externo.
"O Brasil não precisa disso. Há um grau de confiança no Brasil extraordinário", rebateu Lula.
Lula tem criticado a atuação de Campos Neto desde o início de seu terceiro mandado. O presidente do BC foi indicado por Jair Bolsonaro e ocupará o cargo até o fim deste ano.
Na entrevista desta terça-feira, Lula disse ser necessário descobrir a quem Campos Neto "é submetido", criticando um encontro do chefe do BC na semana passada com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um opositor do líder do Executivo.
Questionado sobre a sucessão na presidência do BC, Lula citou algumas características importantes que seu indicado deve possuir. Ele sinalizou que pretende escolher um nome que tenha compromisso com o controle da inflação e o desenvolvimento do país.
Também defendeu que o presidente da autarquia deve ter respeito ao cargo e não se submeter a pressões do mercado financeiro, dizendo que o mercado "muitas vezes" não contribui para o país.
"Na hora que tiver que escolher um presidente do Banco Central, vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável, que tenha respeito ao cargo que exerce e que não se submeta à pressão de mercado", disse.
O diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, é visto como um possível sucessor de Campos Neto. Ele foi indicado por Lula ao cargo após servir como secretário-executivo do Ministério da Fazenda no início de seu mandato.
(Por Fernando Cardoso)