Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - Uma aceleração no ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos pode ter efeito sobre países emergentes e reverter fluxo de investimentos para essas nações, principalmente se a inflação continuar surpreendendo para cima, afirmou nesta segunda-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ponderando que esse não é o cenário observado no momento.
Em evento promovido pela Arko e Traders Club, Campos Neto disse que o mercado ainda projeta que o ciclo implementado pelo banco central americano resultará em uma taxa de juros próxima da neutra, não restritiva. Ele explicou, porém, que em uma situação de inflação persistente e com novo choque relacionado à guerra na Ucrânia, é provável que o aperto monetário americano seja mais intenso no curto prazo.
“Como as inflações continuam surpreendendo, a gente pode ter um movimento de mais altas (de juros nos EUA) no curto prazo, e se esse movimento não vier com percepção de que vem junto de crescimento forte, talvez a gente tenha uma reversão parcial desse fluxo para países emergentes”, disse.
Para ele, é importante tentar entender se esse movimento de aperto mais intenso nos Estados Unidos de fato vai acontecer e em qual intensidade.
"Isso pode ter efeito no mundo emergente? Sim, pode, a gente precisa observar principalmente se a gente entrar em um período no qual a inflação continua surpreendendo para cima e o crescimento surpreendendo para baixo, que não é o que a gente tem visto até agora, mas é um cenário", afirmou.
O presidente do BC disse que, depois da grande saída de recursos dos países emergentes observada em março de 2020, com o início da pandemia da Covid-19, o retorno desses fluxos se deu concentradamente para a Ásia, mais particularmente para a China.
"A gente está vendo um pouco o reequilíbrio disso --não muito, mas um pouco-- e às vezes um pouco já e o suficiente para fazer esse movimento da moeda", disse Campos Neto.
Eles ressaltou que, além das questões geopolíticas globais que têm contribuído para aumentar o apelo de países como o Brasil, o país também foi beneficiado por questões como a melhora dos dados fiscais de curto prazo e a proatividade do Banco Central na política monetária.
Segundo Campos Neto, o cenário principal do BC não contempla uma reversão forte dos fluxos positivos para os emergentes, mas ele reconheceu que o cenário é cercado de incertezas, tanto externas quanto domésticas.
Campos Neto disse que o núcleo de inflação (que desconsidera elementos mais voláteis) está muito alto no Brasil. Para ele o dado recente do IPCA foi uma surpresa e é preciso avaliar se a tendência mudará.
(Por Bernardo Caram)