BRASÍLIA (Reuters) - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega pediu para ser afastado da equipe de transição de governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, informou a assessoria de imprensa da equipe nesta quinta-feira.
Os mercados reagiram mal à nomeação de Mantega para o grupo na semana passada, com o dólar acelerando perdas e fechando em queda de mais de 4% e o Ibovespa afundando 4% diante de temores de que a indicação do ex-ministro, considerado um economista de linha heterodoxa, apontaria para mais risco de descontrole fiscal no próximo governo.
Em carta encaminhada por Mantega ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, que coordena os trabalhos da equipe de transição, Mantega disse que se afastava para aguardar decisão judicial que afirmou estar confiante de que reverterá decisão do Tribunal de Contas da União que o afastaram da vida pública.
Mantega está proibido pelo TCU de assumir cargo público por punição por envolvimento no que ficou conhecido como "pedaladas fiscais" no governo da presidente Dilma Rousseff. Mantega diz ter sido responsabilizado "indevidamente".
"Aceitei trabalhar na equipe como colaborador não remunerado, sem cargo público, para não contrariar a decisão que me impedia de exercer funções públicas por 8 anos", disse Mantega na carta.
"Mesmo assim essa minha condição estava sendo explorada pelos adversários, interessados em tumultuar a transição e criar dificuldades para o novo governo", acrescentou.
Mantega causou polêmica na semana passada ao encaminhar carta ao governo dos Estados Unidos pedindo apoio para adiar a eleição do novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), prevista para o dia 20 deste mês.
O governo Jair Bolsonaro indicou o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn para disputar o cargo, mas Mantega defendeu que o novo governo precisaria ter sido consultado sobre o assunto.
A iniciativa de Mantega foi autorizada por Lula, a despeito de Alckmin apoiar o nome de Ilan --o que alimentou preocupações de que assessores econômicos de esquerda estariam com mais poder de influência na transição do que os mais pró-mercado.
(Por Victor Borges, Bernardo Caram e Marcela Ayres)