(Reuters) - O ministro da Defesa e os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica divulgaram nota conjunta neste sábado afirmando que o representante político das Forças Armadas no governo federal é o titular da pasta.
A nota vem na esteira de declarações do comandante do Exército, Edson Pujol, que procuraram demarcar a distância entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e as Forças Armadas e publicação do próprio presidente nas redes sociais sobre o assunto.
"O único representante político das Forças Armadas, como integrante do governo, é o ministro da Defesa", diz a nota assinada pelo ministro Fernando Azevedo e os comandantes militares.
A nota afirma também que "a característica fundamental das Forças Armadas como instituições de Estado, permanentes e necessariamente apartadas da política partidária, conforme ressaltado recentemente por chefes militares, durante seminários programados, é prevista em texto constitucional e em nada destoa do entendimento do governo e do presidente da República".
Na sexta-feira, em um seminário sobre defesa nacional, Pujol disse que "somos instituição de Estado, não somos instituição de governo".
"Não temos partido, nosso partido é o Brasil, independentemente de mudanças ou permanências de determinado governo por um período longo. As Forças Armadas cuidam do país, da nação, elas são instituição de Estado, permanentes, não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar, de como cumprir as nossas missões", disse o comandante do Exército.
No dia anterior, em uma live organizada pelo Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) sobre defesa, Pujol já fora na mesma linha.
"Não queremos fazer parte da política governamental ou do Congresso Nacional, e muito menos queremos que a política entre no nosso quartéis", afirmou o general.
"O fato de eventualmente militares serem chamados para exercer cargos no governo é decisão exclusiva da administração do Executivo", acrescentou.
Na noite de sexta, Bolsonaro afirmou em publicação nas redes sociais que as Forças Armadas devem permanecer apartidárias, mas destacou que têm de atuar "baseadas na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República".
O incômodo dos militares da ativa com a identificação do governo Bolsonaro com as Forças Armadas tem crescido. Hoje, nove dos 23 ministros do governo têm origem militar. Mais do que isso, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello --chamado para atender uma situação de emergência e que acabou sendo efetivado no cargo-- é da ativa e não tem planos de ir para reserva, o que incomoda os militares.
A nota divulgada neste sábado afirma que "o presidente da República, como comandante supremo, tem demonstrado, por meio de decisões, declarações e presença junto às tropas, apreço pelas Forças Armadas, ao que tem sido correspondido".
O texto de Azevedo e dos comandantes militares diz ainda que "as Forças Armadas direcionam todos os seus esforços exclusivamente para o cumprimento de suas missões", mencionando desde a participação dos militares no combate à pandemia de coronavírus até a proteção das fronteiras do país.
(Por Alexandre Caverni)