Embora tenha vendido R$ 88,5 bilhões em participações societárias entre janeiro de 2019 e setembro de 2022, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou longe da meta de redução de sua bilionária carteira de ações até dezembro de 2022. Agora, o prazo para cumprir o objetivo é dezembro de 2024. No fim de abril, o diretor de Participações, Mercado de Capitais e Crédito Indireto do BNDES, Bruno Laskowsky, já havia reconhecido, em entrevista ao Estadão/Broadcast, que o banco de fomento poderia não cumprir a meta.
Mesmo assim, o presidente do banco, Gustavo Montezano, avaliou positivamente a estratégia do BNDES para sua carteira de ações nesta quinta-feira, 10, ao comentar os resultados financeiro do terceiro trimestre. Aliás, entre julho e setembro, o BNDES não vendeu uma ação sequer. "Dadas as condições de mercado, especialmente desde fevereiro de 2020 (quando a pandemia de covid-19 se abateu sobre a economia), fizemos um ótimo trabalho", afirmou Montezano.
O executivo lembrou que as vendas das participações do BNDES incluíram a maior oferta secundária de ações da história, quando vendeu em torno de R$ 22 bilhões em papéis da Petrobras (BVMF:PETR4), no início de 2020, logo antes da pandemia, e a maior negociação em bloco da história, quando vendeu papéis da Vale (BVMF:VALE3), em agosto de 2021. Na estratégia de vender ações, o BNDES saiu completamente do capital de mineradora, após vender R$ 28,6 bilhões.
A meta de redução não foi atingida, apesar das vendas bilionárias, em parte por que as ações de valorizaram. Quando estabeleceu uma nova política para investimentos em participações em companhias, logo no início da gestão de Montezano, em meados de 2019, o BNDES definiu a meta de reduzir o limite de VaR ("variation at risk", indicador que mede a volatilidade diária de uma carteira de ações) para R$ 600 milhões por dia até dezembro de 2022. Na ocasião, o limite de VaR da carteira do BNDES estava em torno de R$ 3 bilhões por dia. A redução do indicador implicaria, portanto, uma redução de 80% no valor total das participações societárias.
Na média do terceiro trimestre, o VaR da carteira de ações do BNDES ficou em R$ 3,4 bilhões por dia. Caso o banco tivesse mantido a mesma carteira que tinha no início de 2019, o indicador estaria em R$ 5,7 bilhões por dia, conforme dados apresentados nesta quinta-feira, 10.
Agora, segundo Montezano, a diretoria do BNDES decidiu manter a meta de redução até R$ 600 milhões por dia para o limite de VaR, mas com o prazo de cumpri-la até dezembro de 2024. O presidente do banco disse que a manutenção da política e dessa meta dependerá da próxima gestão do BNDES, já sob o novo governo federal. Ainda assim, com esse indicador, o BNDES será um dos mais "agressivos", entre os bancos de desenvolvimento, em termos de posições "especulativas".