Por Mitra Taj
LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, repetiu nesta quarta-feira que venceu a eleição presidencial do país e acusou a oposição de tentar orquestrar um "golpe", após protestos em massa que alegam fraude na votação de domingo.
Com quase 97% dos votos apurados nesta quarta, a contagem oficial mostrava Morales com 46,49%, cerca de 9,5 pontos na frente do principal oponente, Carlos Mesa, mas ainda abaixo dos 10 pontos necessários para vencer a disputa em 1º turno.
Em um discurso incendiário feito no início da manhã na sede do governo na capital La Paz, o presidente de esquerda criticou os episódios recentes de violência, que incluíram centros eleitorais incendiados e confrontos entre manifestantes e policiais, que ele atribuiu à oposição de direita e a apoiadores estrangeiros.
"Eu convoquei essa conferência para denunciar, perante o povo boliviano e todo o mundo, que um golpe de Estado está em andamento. De antemão, a direita se preparou para um golpe com ajuda internacional", disse.
Evo pediu ao povo que "defenda a democracia" no discurso. Mais tarde, ele tentou garantir o apoio dos militares em um evento na região de Cochabamba, uma fonte essencial de apoio político.
Em um comunicado em vídeo divulgado nesta quarta-feira, Mesa pediu "protestos permanentes" até a confirmação de um segundo turno e disse que apresentará provas de fraude eleitoral.
Furiosos com o que julgam ser uma tentativa fraudulenta de Morales de vencer a eleição para obter um quarto mandato, manifestantes têm realizado protestos em massa em La Paz, em especial próximo ao local onde o tribunal eleitoral contabiliza os votos.
A turbulência no país teve início após uma contagem oficial ser interrompida durante 24 horas, na noite de domingo, quando Morales alegou que seu partido ganharia apesar dos números preliminares mostrarem que haveria um 2º turno.
O tribunal eleitoral e alguns governos internacionais, inclusive o Brasil, demonstraram preocupação com a integridade da votação.
A incerteza diante do processo abalou o país, que passou por um período de quase 14 anos de estabilidade e crescimento desde que Morales assumiu o cargo em 2006 como o primeiro líder indígena da Bolívia.
O ex-líder sindical de plantadores de coca foi responsável por uma estabilidade e um crescimento relativos na nação, mas revoltou muitos ao concorrer a um quarto mandato consecutivo, desafiando os limites estabelecidos em um referendo de 2016 que o proibiu de fazê-lo.
"Se ele quer ser eleito de maneira limpa, deveria ter aceito um segundo turno. Do que ele tem medo?", indagou Maria Luz Vargas, vendedora de jornais de 65 anos de La Paz que fechou seu quiosque cedo na terça-feira para participar dos protestos.
A Organização dos Estados Americanos (OEA), a monitora oficial da eleição, questionou a contagem e citou uma alteração "drástica" e inexplicável na votação que afetou a confiança dos eleitores no processo eleitoral.
Em uma reunião realizada nesta quarta-feira para debater as questões da Bolívia, a OEA disse que Evo não pode cantar vitória e que recomendou que, mesmo que ele obtenha uma vantagem de 10 pontos, o país realize um segundo turno mesmo assim.