Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, vai pedir demissão do cargo em pronunciamento que fará logo mais às 11h desta sexta-feira, disse à Reuters uma fonte com conhecimento direto do assunto.
A decisão de Moro --que ganhou notoriedade como principal juiz da operação Lava Jato-- ocorre após a confirmação da demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, pelo presidente Jair Bolsonaro publicada em edição extra do Diário Oficial da União na madrugada desta sexta-feira.
Segundo a fonte, não houve discussão sobre eventual acordo entre Bolsonaro e Moro para a escolha do sucessor de Valeixo à frente da PF --condição imposta pelo ministro da Justiça para ficar no cargo-- o que levou Moro a decidir deixar o governo.
Na véspera, em reunião no Palácio do Planalto pela manhã, o presidente avisou a Moro que demitiria o diretor-geral da Polícia Federal e o ministro chegou a dizer que não via motivos para continuar no cargo sem a permanência de Valeixo.
Os ministros da Casa Civil, Braga Netto, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, começaram a atuar então para garantir a permanência de Moro e passaram a buscar uma solução que atendesse tanto ao ministro da Justiça quanto ao presidente.
Posteriormente, Moro sinalizou nos bastidores que poderia permanecer no cargo, caso fosse responsável pela escolha do sucessor de Valeixo. Contudo, segundo a fonte, não houve uma garantia disso, apenas uma sinalização vinda do Palácio do Planalto e o ministro preferiu deixar o cargo.
A decisão de Moro --um dos ministros mais populares do governo-- é um revés para Bolsonaro. A ida dele para Brasília foi considerada um "gol de placa" do presidente por ter na sua gestão um símbolo de combate à corrupção.
Notório pela condução dos processos da Lava Jato, Moro pediu exoneração do cargo de juiz federal, em que estava havia 22 anos, em novembro, mas acumulou embates tanto com o presidente quanto com o Congresso Nacional.
Nos bastidores, Moro sempre foi visto como um potencial adversário de Bolsonaro na sucessão presidencial em 2022. Em entrevista à Reuters em agosto do ano passado, ele disse, contudo, que não tem perfil político e que Bolsonaro, se quiser, seria seu candidato ao Planalto.
A saída de Moro do governo é a segunda baixa no alto escalão de Bolsonaro em cerca de uma semana. Na quinta-feira da semana passada, Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta do comando do Ministério da Saúde em meio à pandemia de coronavírus e colocou em seu lugar o oncologista Nelson Teich.