Por Rodrigo Viga Gaier e Ricardo Brito
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal cumpre nesta terça-feira mandados de busca e apreensão nas residências oficial e pessoal do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), como parte de uma investigação que apura supostas irregularidades na área de saúde e na instalação de hospitais de campanha para combater a pandemia de Covid-19, informou a PF.
As diligências acontecem no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, e no bairro do Grajaú, onde Witzel tem residência pessoal. Os mandados foram expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde os governadores têm prerrogativa de foro. Uma equipe da Polícia Federal de Brasília participa da operação. Os policiais federais passaram cerca de duas horas no Palácio Laranjeiras.
Witzel teria sido citado por alvos de uma recente operação da Lava Jato que mirou pessoas que teriam obtido vantagens em contratos firmados pela Secretaria de Saúde do Estado. Os benefícios ocorreriam desde a época do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB).
Witzel foi citado em conversas telefônicas por alvos de um braço da operação da Lava Jato, a Favorito, no âmbito do recredenciamento de uma empresa que estava proibida de prestar serviços ao setor público. A empresa teria também ligação com o empresário Mário Peixoto, um dos maiores fornecedores do Estado, que foi preso em operação da Lava Jato.
Duas semanas antes, o ex-subsecretário-executivo da secretaria Estadual de Saúde Gabriell Neves e o substituto dele foram presos acusados de irregularidades nas compras emergenciais para combater a pandemia de Covid-19. O episódio e a demora na entrega de hospitais de campanha prometidos pelo governo estadual para combater a doença resultaram na saída do secretário de saúde Edmar Santos, que ganhou um nova secretaria, o que lhe garantiu foro privilegiado.
Os hospitais de campanha custaram ao Estado cerca de 800 milhões de reais, mas das sete unidades previstas, apenas uma está funcionando. Todos deveriam estar abertos no fim de abril.
Foram cumpridos 12 mandados, sendo 10 deles no Rio de Janeiro e dois em São Paulo.
Em nota, Witzel negou envolvimento em qualquer irregularidade e atribuiu a operação desta terça a uma interferência do presidente da República, Jair Bolsonaro, de quem é desafeto político, após o ex-ministro da Justiça Sergio Moro acusar o presidente de buscar interferir politicamente na PF.
"Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará", afirma Witzel na nota.
"A interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos."
Na segunda-feira, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das mais próximas aliadas de Bolsonaro, disse em entrevista à Rádio Gaúcha que já havia alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal por supostas irregularidades em contratações no âmbito do combate à pandemia.
Bolsonaro foi indagado por jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada nesta manhã sobre a operação que teve Witzel como alvo e afirmou: "Parabéns à Polícia Federal. Fiquei sabendo agora pela mídia. Parabéns à Polícia Federal, ta ok?" Perguntado se Zambelli sabia da operação, o presidente disse que a pergunta deveria ser feita à deputada.
Na semana passada, Witzel disse à Reuters que havia rumores de que poderia ser alvo de uma operação da PF junto com outros governadores que fazem oposição a Bolsonaro.
Também na semana passada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao STJ investigações contra Witzel e os governadores do Pará, Helder Barbalho (MDB), e do Amazonas, Wilson Lima (PSC), por suspeitas de irregularidades em contratações emergenciais feitas no âmbito do combate à pandemia.
A operação que tem Witzel como alvo acontece no momento em que o empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, presta novo depoimento na sede da PF no Rio depois de afirmar ao jornal Folha de S.Paulo que Flávio soube antecipadamente de uma operação da Polícia Federal que atingiria Fabrício Queiroz, assessor parlamentar do filho do presidente quanado ele era deputado estadual no Rio.
Marinho, que foi aliado próximo de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, mas depois rompeu com o presidente e com seus filhos, é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB. Ele depõe no inquérito que investiga as acusações de Moro de que Bolsonaro buscou interferir politicamente na PF, investigação sob responsabilidade do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).
(Edição de Eduardo Simões)