Investing.com – Na sua análise macroeconômica semanal, Ronald Temple, estrategista-chefe de mercado da Lazard Asset Management, avalia que a desaceleração das pressões inflacionárias torna desnecessário um aumento adicional de juros pelo Banco Central Europeu (BCE).
Os dados do índice de preços ao consumidor (IPC) na zona do euro, divulgados na semana passada, indicaram uma desaceleração na inflação, o que, segundo Temple, deve dar ao BCE “maior confiança de que não são necessários mais aumentos de juros”. Ele argumenta que, embora fatores técnicos, como mudanças na ponderação dos índices e efeitos-base, tenham contribuído para a desinflação, a maior parte da desaceleração das pressões sobre os preços deve ser duradoura. O aumento nos preços da energia pode elevar as leituras gerais, mas a tendência subjacente é positiva.
O especialista também destaca as conclusões do relatório sobre Gastos com Consumo Pessoal (PCE) dos EUA divulgado na sexta-feira passada, que mostrou uma inflação ligeiramente abaixo do esperado, com o núcleo do indicador mensal de +0,1% e o índice geral de +0,4%.
É importante observar que o PCE é o índice de preços preferido do Federal Reserve, pois avalia a inflação de todos os bens e serviços independentemente de quem está pagando, em contraste com o IPC, que avalia apenas os bens e serviços pagos pelos consumidores. O relatório de PCE também refletiu um aumento na renda pessoal e nos gastos com consumo de 0,4% em relação ao mês anterior e uma queda na taxa de poupança para 3,9%, o nível mais baixo desde dezembro de 2022.
Temple destaca ainda que a segunda leitura do PIB do Reino Unido apresentou um resultado mais forte do que o esperado, com um aumento de 0,6% em termos anuais (0,4% de consenso), impulsionado por um maior investimento empresarial. A agência nacional de estatísticas também informou que a economia britânica estava 1,8% acima do nível anterior à pandemia em termos reais, após incorporar as revisões do “Livro Azul”, o que sugere que a situação da economia não é tão ruim como se suspeitava.
Dados de emprego a serem observados esta semana
O Congresso dos EUA aprovou no último sábado uma lei que estende o financiamento de áreas essenciais por 45 dias e evita o temido “shutdown”, ou paralisação do governo. O Goldman Sachs (NYSE:GS) calculou que, a cada semana de shutdown, o PIB diminuiria 0,2 pontos percentuais no quarto trimestre, explica Temple.
Superado esse obstáculo importante, pelo menos temporariamente, a atenção do mercado se concentra esta semana nos dados de emprego da maior economia do mundo. “A Pesquisa de Abertura de Vagas de Trabalho e Rotação de Mão de Obra (JOLTS) na terça-feira e o relatório mensal de emprego na sexta serão importantes para avaliar se a rigidez do mercado de trabalho continua diminuindo”, diz Temple.
A expectativa é que o número de vagas de emprego se mantenha estável em torno de 8,8 milhões, enquanto as folhas de pagamento não agrícolas devem crescer em 170.000 empregos, comparado aos 187.000 de agosto e à média de 236.000 por mês no último ano. As projeções também apontam para um aumento de 0,3% nos salários médios por hora, ante o aumento de 0,2% registrado em agosto, com um avanço anualizado de 4,3%, em linha com o mês anterior. A taxa de desemprego deve registrar uma leve queda de 3,8% para 3,7%.
Implicações da Greve no Setor Automotivo dos EUA
Por fim, o estrategista da Lazard analisa se a greve convocada pelo sindicato United Auto Workers (UAW) no setor automotivo dos Estados Unidos contra as três maiores montadoras (General Motors (NYSE:GM), Ford (NYSE:F) e Stellantis (NYSE:STLA)) pode sinalizar tensões mais amplas no mercado de trabalho e quais seriam suas implicações na inflação.
“Minha expectativa é que continuaremos a ver uma pressão dos trabalhadores por aumentos expressivos na remuneração em algumas indústrias que exigem habilidades especializadas e onde os benefícios cresceram após a pandemia. No entanto, devido à baixa taxa de sindicalização nos EUA, não espero ver um aumento generalizado nos salários que possa afetar a tendência de desaceleração da inflação que se consolidou nos últimos meses nos EUA. (…) Entretanto, se a greve atual do UAW se prolongar, ela poderá pressionar os preços de carros novos e usados para cima, o que, nos últimos meses, contribuiu significativamente para a redução da inflação. Se tivermos uma greve prolongada que reduza os estoques de carros disponíveis para venda, poderemos observar surpresas com aumentos nos índices de preços ao consumidor nos próximos meses, até que a produção e os estoques se normalizem”, conclui.