Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - Os prêmios da soja brasileira nos portos caíram para mínimas históricas nos últimos dias em meio ao arrefecimento da demanda chinesa, enquanto o país colhe uma safra recorde, disseram analistas e traders.
Os prêmios caíram para -200 pontos base por bushel esta semana em portos como Paranaguá para embarques em maio, surpreendendo alguns pela magnitude do declínio.
"Eu tinha apostado no começo que o prêmio da soja ia bater os -50, -60, devido ao tamanho da safra", disse o analista da Agrinvest Eduardo Vanin.
Mas à medida que a temporada avançou, os descontos da soja brasileira em relação aos preços de Chicago continuaram aumentando, disse ele, atribuindo isso a compras chinesas mais lentas no momento.
Vanin estimou os prêmios em -200 para maio e -160 para embarques em junho em meio à supersafra do Brasil, que está acima de 153 milhões de toneladas, 22% a mais do que a colheita anterior, que foi afetada pela seca do ano passado.
Sol Arcidiacono, analista da HedgePoint Global, observou que a demanda da China diminuiu com a queda das margens de esmagamento da soja no país, afetando as compras para embarques imediatos no Brasil.
A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que representa exportadores globais de grãos no Brasil, disse que as importações chinesas de soja brasileira caíram 9,8% no primeiro trimestre, para 13,297 milhões de toneladas.
Sergio Mendes, diretor da Anec, observou também que os gargalos logísticos afetaram os prêmios, além da grande safra e da frágil demanda chinesa.
"Quando se faz uma previsão de safra como fizemos e ela se cumpriu, evidentemente que se paga um preço", disse Mendes.
Os prêmios de soja refletem a dinâmica de oferta e demanda em relação aos contratos de referência negociados em Chicago, resultando no preço FOB para um determinado mês de embarque.
Dois analistas disseram que é improvável que a China importe 96 milhões de toneladas de soja, conforme previsto pelo USDA. Um baixou sua estimativa para cerca de 90 milhões de toneladas.
A Abiove, que representa as esmagadoras e tradings de oleaginosas, previu que as exportações brasileiras de soja atingiriam 93,7 milhões de toneladas em 2023, 1,4 milhão de toneladas acima da previsão de março.
A Abiove se recusou a comentar sobre os movimentos do mercado.
PREÇOS EM QUEDA
O preço FOB da soja chegou a 495,05 dólares/tonelada na terça-feira, o menor desde 9 de novembro de 2021, por conta da grande safra, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)
"Trata-se, também, do menor preço FOB da soja para esse período desde 2020", disse o Cepea em análise nesta sexta-feira.
Entre 13 a 19 de abril, o indicador Paranaguá (PR) do Cepea caiu 1,2%, indo para 143,99 reais/saca de 60 kg na quarta.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, de 13 a 19 de abril, os preços caíram 2,1% no mercado de balcão (pago ao produtor) e 1,3% no de lotes (negociações entre empresas).
Os preços dos derivados de soja, como farelo e óleo, também cederam no mercado doméstico, "influenciados pela demanda enfraquecida e pelo menor custo com a matéria-prima", disse o Cepea.
Considerando-se a média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores do farelo de soja recuaram 0,7% de 13 a 19 de abril. O óleo de soja bruto degomado (com 12% de ICMS incluso), negociado na região de São Paulo (SP), desvalorizou-se 1,6%, a 5.384,53 reais/tonelada na quarta-feira.