Por Francois Murphy
VIENA (Reuters) - Salzburgo, a terra de Mozart e de "A Noviça Rebelde", não é um lugar conhecido por mudanças radicais.
A pitoresca cidade austríaca, que atrai turistas de todo mundo para seus palácios barrocos, mercado de Natal e festival de verão de música clássica e teatro, teve prefeitos de apenas dois partidos de centro desde a Segunda Guerra Mundial.
Mas agora a crescente irritação dos moradores com alguns dos mais altos custos de moradia da Áustria pode levá-los a eleger um jovem comunista como prefeito no segundo turno das eleições de domingo.
"Nossa principal questão, a moradia acessível, não é apenas uma questão para as pessoas que têm que viver com uma renda muito baixa, mas se tornou uma questão para a grande maioria das pessoas que vive de seu trabalho e não de sua riqueza", disse o candidato comunista, Kay-Michael Dankl, em uma entrevista nos escritórios de seu partido.
Se ele vencer o segundo turno de domingo contra o vice-prefeito social-democrata Bernhard Auinger, Salzburgo seguirá o exemplo da segunda cidade da Áustria, Graz, que tem um prefeito comunista. As cidades são raros sucessos para um partido que nem mesmo está no Parlamento nacional.
"Muitas pessoas que moravam na cidade estão se mudando de volta para o campo ou voltando (para outro lugar) porque os aluguéis são extremamente caros", disse a assistente social Michelle, de 26 anos.
O fato de o partido de Dankl, o Partido Comunista Austríaco Plus (KPO Plus), ter ficado em segundo lugar nas eleições municipais deste mês mostra que os votos de protesto não precisam ser exclusividade do Partido da Liberdade (FPO), de extrema-direita, que lidera as pesquisas nacionais, mas ficou em quinto lugar em Salzburgo.
"De fato, esta é uma eleição baseada na personalidade", disse a analista política Kathrin Stainer-Haemmerle, da Universidade de Ciências Aplicadas de Carintha.
Dankl, um historiador de 35 anos e ex-líder dos Jovens Verdes, aumentou a parcela de votos de seu partido para 23,1% neste mês, contra 3,7% em 2019.
Parte de seu sucesso se deve ao apelo pessoal - ele é um orador calmo, com charme livresco e um sorriso fácil.
"Ele realmente é um comunicador muito bom e formidável", afirmou o analista político Thomas Hofer. "Com sua personalidade, natureza envolvente, ele é capaz de suavizar as arestas duras do K no nome do partido."
Ele também conquistou parte do público ao manter apenas 2.300 euros por mês de seu salário e doar o restante para ajuda financeira aos eleitores necessitados. Dankl espera que sua dedicação em atender às preocupações dos eleitores supere os apelos dos rivais para que não votem em um comunista.
"Acredito que a maioria das pessoas na cidade de Salzburgo agora sabe o que defendemos", declarou ele.
Com números e exemplos, ele disse que, em média, os locatários de sua cidade gastam metade da renda familiar com aluguel e custos associados, como aquecimento.
A escassez de moradias em Salzburgo se deve principalmente a uma relativa falta de moradias sociais, de acordo com um relatório feito há dois anos pelo think tank econômico Wifo.
Dankl quer construir 1.000 unidades de moradias subsidiadas por ano durante 10 anos, uma meta que seu rival Auinger diz ser "completamente irrealista". Ele se comprometeu a construir 1.500 unidades em cinco anos.
Ambos os candidatos apoiam a investigação de quantos apartamentos ficam vazios durante a maior parte do ano e dizem que uma taxa sobre apartamentos vazios precisa ser melhor aplicada.
Apenas 821 votos separaram Dankl e Auinger no primeiro turno e os dois dizem que trabalharão juntos, seja quem for o vencedor no domingo.