(Reuters) - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), Gustavo Montezano, disse nesta quarta-feira que a auditoria interna que prometia abrir a caixa-preta do banco, criticada recentemente em razão do custo, foi contratada pela gestão anterior e sua divulgação, mal interpretada.
Montezano disse que, quando assumiu o banco em meados de 2019, 90% do relatório já estava pronto e que a nova administração do banco de fomento apenas deixou a consultoria terminar o trabalho e, após receber o relatório, divulgou uma versão resumida para a população e entregou a completa para autoridades.
"Tivemos essa notícia que foi mal interpretada pela sociedade novamente", afirmou Montezano, que participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos. "Dentro da nossa política de divulgar tudo o que achamos que é necessário, a gente recebeu essa informação e soltou para o mercado", acrescentou.
No começo da semana, o jornal o Estado de S.Paulo reportou que o BNDES gastou 48 milhões de reais na auditoria, que após 1 ano e 10 meses de investigações produziu um relatório que não apontou nenhuma evidência direta de corrupção em oito operações com a JBS (SA:JBSS3), o grupo Bertin e a Eldorado Brasil celulose.
O valor foi pago a um escritório estrangeiro, o Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, que subcontratou outro brasileiro, o Levy & Salomão.
Montezano também acrescentou que auditorias como a que foi feita no BNDES costumam ser caras e por isso o valor não chamou a atenção no momento em que ele assumiu o banco, mas ponderou que, sim, o valor é significativo.
Ele considerou "muito perigosa e até infeliz" qualquer comparação entre o BNDES e a Petrobras (SA:PETR4), destacando que na petrolífera de controle estatal houve provas de crimes e má gestão fiduciária, com pessoas confessando crimes dentro da diretoria, diferente do banco de fomento.
Montezano destacou que o BNDES está na ponta oposta, com nada provado contra nenhum diretor ou funcionário até hoje.
Ele reiterou que uma preocupação fundamental do BNDES atualmente é recuperar a reputação do banco, o que ele avaliou que já está acontecendo. "O trabalho está dando resultado", disse.
OFERTAS
Montezano também comentou sobre a oferta de ações da Petrobras (SA:PETR4) em poder do BNDES, que deve ser precificada em 5 de fevereiro, destacando que os recursos entrarão no balanço do banco no primeiro semestre, com 60% do lucro líquido ficando para a União.
Na operação, o banco poderá vender até 734,2 milhões de ações ordinárias (SA:PETR3) da Petrobras, segundo prospecto publicado pela petroleira, equivalente a um montante de 23,5 bilhões de reais, se considerado o preço de fechamento dos papéis no último dia 20.
A fatia de ações na oferta representa 9,86% do capital votante da Petrobras e é toda a participação detida atualmente pelo BNDES nessa classe de ações.
"A Petrobras é continuação de uma estratégia de desinvestimento que a gente já vem há alguns meses pautando. Em dezembro, colocamos a operação da Marfrig (SA:MRFG3), em janeiro tivemos a operação de Light (SA:LIGT3)", afirmou, referindo-se a ofertas de outras ações em poder do banco.
Ele não quis comentar sobre quando acontecerão as novas ofertas de ações de outras empresas nas quais o BNDES tem participação.
Em resposta a jornalistas sobre que questionamentos ouviu no evento em Davos, ele relatou que as conversas têm sido muito boas e que há reconhecimento de que reformas prometidas um ano atrás foram entregues.
"O Brasil está cada vez mais entrando para ser a noiva da vez no mercado global de investimentos. A grande dúvida é a continuação dessas reformas, o que a gente consegue fazer ainda esse ano, porque essas reformas potencializam muito a perspectiva futura do Brasil", afirmou.
(Por Paula Arend Laier e Peter Frontini, de São Paulo)