Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O Twitter apagou duas publicações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro na rede social no domingo, nas quais ele divulgou vídeos que fez em cidades-satélites no Distrito Federal em que conversava com um vendedor ambulante e visita um supermercado, provocando aglomerações e contrariando orientações de autoridades de saúde para conter a disseminação do coronavírus.
Em nota, a rede social informou que recentemente ampliou suas regras para abranger conteúdos contrários à saúde pública. Nos vídeos, Bolsonaro defende que as pessoas voltem ao trabalho e cita o medicamento hidroxicloroquina como um tratamento para o Covid-19, doença causada pelo coronavírus, embora os estudos sobre sua eficácia estejam em estágios iniciais.
"O Twitter anunciou recentemente em todo o mundo a expansão de suas regras para abranger conteúdos que forem eventualmente contra informações de saúde pública orientadas por fontes oficiais e possam colocar as pessoas em maior risco de transmitir Covid-19", afirmou a rede social em nota quando indagada sobre a decisão de apagar as publicações do presidente.
Em entrevista a jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro disse que não comentará a decisão do Twitter, alegando se tratar de uma empresa privada.
Bolsonaro tem contrariado as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) e defendido o fim do isolamento social, que tem sido usado para conter a propagação do coronavírus.
O presidente também tem criticado medidas de restrição à circulação adotadas por governadores e prefeitos e afirmado que os gestores locais são "exterminadores de empregos", trabalham com o conceito de "terra arrasado" e estão cometendo "um crime" contra a economia do país.
Ainda no domingo, após o passeio que fez pelas cidades-satélites, Bolsonaro disse que estava "com vontade" de editar um decreto nesta segunda-feira para liberar a volta das pessoas ao trabalho, medida que contraria o que tem preconizado o Ministério da Saúde e o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta.
Bolsonaro também vem minimizando a pandemia, referindo-se por mais de uma vez ao Covid-19 como uma "gripezinha". Segundo dados do Ministério da Saúde, a doença já matou 136 pessoas até o domingo, e o Brasil tem 4.256 casos confirmados de infecção pelo coronavírus.
No mundo, de acordo com a OMS, o Covid-19 já matou mais de 30 mil pessoas e existem mais de 638 mil casos confirmados em 202 países.
(Com reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo)