(Atualiza com denúncia judicial contra presidente do Banco
Central).
Buenos Aires, 12 jan (EFE).- O Governo argentino prometeu hoje
que pagará as dívidas soberanas de 2010 após a suspensão do decreto
presidencial que prevê o uso de US$ 6,569 bilhões de reservas
monetárias para cancelar passivos com organismos internacionais e
credores locais.
"As dívidas de 2010 serão pagas", afirmou o chefe de Gabinete
argentino, Aníbal Fernández, em meio ao confronto entre o Executivo
e o Banco Central do país sobre e criação do chamado "Fundo do
Bicentenário" para o pagamento de dívidas com reservas monetárias.
A juíza María José Sarmiento, que na sexta-feira suspendeu o
decreto presidencial sobre o uso das reservas, resolveu nesta
segunda-feira que a causa entrará em processo comum e deixará de
ser, como era até agora, um trâmite urgente de ação de recurso.
O conflito explodiu no momento em que a Argentina prepara uma
oferta para refinanciar bônus em moratória no valor de quase US$ 20
bilhões em mãos de credores que rejeitaram a reestruturação de 2005,
com a qual o país saiu da moratória de 2001.
A expectativa no mercado financeiro é que a oferta de
refinanciamento será adiada pelo menos até meados de fevereiro.
Aníbal Fernández voltou a questionar a suspensão do decreto e
considerou que, se o pagamento fosse feito com reservas, o Estado
economizaria US$ 800 milhões com o acesso a melhores taxas, em
comparação a outros mecanismos de financiamento.
"Por não compreender as medidas que estão sendo adotadas,
estaríamos perdendo nada menos que US$ 13,5 milhões por cada US$ 100
milhões que colocaríamos na praça", sustentou o chefe do gabinete em
declarações à rádio "La Red", de Buenos Aires.
Sarmiento, juíza de turno durante o atual recesso judicial,
também restituiu na sexta-feira Martín Redrado à frente do Banco
Central. Ele tinha sido tirado do cargo por um decreto presidencial
por se negar a usar as reservas para cancelar passivos.
Redrado foi denunciado hoje penalmente por Marcos Moisés, diretor
do Banco Central, que o acusa de "abuso de poder" por nomeações
feitas pelo titular da entidade ao ser restituído em seu cargo.
O presidente do banco emissor já tinha sido denunciado na Justiça
pelo Executivo por descumprimento de seus deveres como funcionário,
ao negar-se a usar as reservas.
O Governo da presidente argentina, Cristina Fernández de
Kirchner, espera agora que a Justiça resolva a apelação que
apresentou à suspensão de ambos os decretos.
"Demos julgamento sumaríssimo (à causa), portanto, os prazos se
estendem pouco. É um trâmite excepcional e rápido", antecipou hoje a
juíza, que bloqueou o uso de reservas ao decidir a favor de um
recurso apresentado pelas principais forças da oposição argentina.
Sarmiento entendeu que o Parlamento, que está em recesso, é quem
tem poder para decidir sobre a utilização das reservas monetárias,
assim como para destituir o presidente do Banco Central.
O chefe de Gabinete reiterou hoje que Sarmiento "tem respostas
políticas quando na realidade deveria ter respostas jurídicas" ao
conflito.
A presidente argentina declarou ontem que o conflito entre o
Executivo e o Banco Central responde a uma "formidável manobra
política" contra si e ressaltou que o país precisa "imperiosamente"
sair da moratória de 2001.
A comissão parlamentar que controla os decretos presidenciais,
formada por oito governistas e oito opositores, se reunirá nesta
quarta-feira para debater sobre as recentes decisões de Cristina.
EFE