Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar passava a subir acentuadamente contra o real nesta terça-feira, com os investidores atentos às expectativas de mais estímulo nos Estados Unidos e aos desdobramentos políticos em Brasília em meio a discussões sobre novas medidas de auxílio emergencial e persistentes incertezas fiscais.
Às 10:05, o dólar avançava 0,70%, a 5,4098 reais na venda, depois de ter chegado a tocar 5,3563 reais na mínima do dia, enquanto o dólar futuro de maior liquidez ganhava 0,71%, a 5,410 reais.
Segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, o movimento desta manhã refletia as atenções divididas dos investidores entre o clima otimista no exterior e as incertezas domésticas.
Os democratas do Congresso norte-americano estão avançando com uma proposta de estímulo em resposta à Covid-19 do presidente Joe Biden, no valor total de 1,9 trilhão de dólares, que contará com cheques diretos à população afetada pela pandemia.
"O exterior está na expectativa em relação ao pacote. Esse é um movimento que vai ajudar na disponibilidade de moeda para o exterior e" beneficiará os mercados brasileiros, afirmou.
"Mas ainda temos muitas incertezas em relação aos nossos programas internos", continuou, citando temores de que o governo desrespeite seu teto de gastos este ano.
"É a preocupação maior do mercado. Está se falando muito em novo auxílio para dar sustentação (à população vulnerável). Como não há fonte suficiente de onde tirar esse dinheiro, isso dependerá de medidas do Congresso. O Brasil está endividado; não devemos cometer deslizes fiscais para não comprometer projetos para este ano."
O Congresso iniciou seus trabalhos investindo em duas frentes distintas de atuação, pressionando, de um lado, o governo por um auxílio emergencial aos mais vulneráveis durante a pandemia, e, de outro, na sinalização com pautas econômicas sem impacto fiscal imediato, em claro aceno ao mercado.
A atenção dos investidores deve seguir em Brasília, à medida que aguardam pela retomada da agenda de reformas estruturais que foi promessa eleitoral do governo de Jair Bolsonaro.
Na quarta-feira, o plenário da Câmara deve aprovar o projeto que concede autonomia operacional ao Banco Central, avaliou o relator da matéria, Silvio Costa Filho (PRB-PE), em pronunciamento na véspera ao lado dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Segundo Costa, nesta terça-feira haverá uma reunião com os líderes partidários para apresentar o teor da proposta e, no dia seguinte, ela vai a votação.
Finalmente, as expectativas para os juros domésticos seguem no radar dos investidores. Apostas de que o BC começará a elevar a taxa Selic ainda no primeiro trimestre deste ano têm fornecido algum suporte ao real, que em 2020 sentiu a pressão da redução do diferencial de juros entre o Brasil e outros países.
Mas o cenário para a próxima reunião do Copom está longe de claro.
"A deterioração das condições financeiras parece não ser ainda suficiente para convencer todo o comitê de política monetária aos reajustes dos juros no curto prazo, porém o temor com a questão fiscal já sem impõe nas curvas de juros e a próxima reunião do Copom tende a ser bastante agitada", disse em nota Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
A moeda norte-americana à vista teve queda de 0,23% na véspera, a 5,3723 reais na venda.
O Banco Central fará neste pregão leilão de swap tradicional para rolagem de até 16 mil contratos com vencimento em junho e outubro de 2021.