Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista recuava quase 2% nesta quinta-feira, caindo abaixo dos 6,15 reais, com o mercado reagindo positivamente a dois novos leilões de dólares à vista realizados pelo Banco Central nesta manhã e a comentários do futuro presidente da autarquia, Gabriel Galípolo.
Às 14h31, o dólar à vista caía 1,96%, a 6,1450 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 1,73%, a 6,147 reais na venda.
Na quarta-feira, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 2,78%, cotado a 6,2679 reais -- maior valor nominal de fechamento da história.
Logo após a abertura, o BC vendeu 3 bilhões de dólares à vista em um leilão anunciado na véspera. No entanto, assim como em operações anteriores, o novo leilão teve efeito quase nulo nas negociações, com a moeda norte-americana ainda demonstrando força e se mantendo em patamares históricos.
Pouco mais de uma hora depois, a autarquia vendeu mais 5 bilhões de dólares à vista em um segundo leilão anunciado minutos antes da operação, o que finalmente forneceu alívio à moeda brasileira.
Com as vendas de hoje, o BC totaliza mais de 20,75 bilhões de dólares vendidos desde a quinta-feira da semana passada, em uma série de intervenções no câmbio que incluíram leilões à vista e leilões de linha (dólares com compromisso de recompra).
Após os leilões, o real ainda recebeu um impulso de falas do diretor de política monetária do BC, que foram consideradas positivas por analistas, com ele enfatizando que a autoridade monetária tem ferramentas para atingir a meta de inflação e rejeitando ideia de que o real esteja sofrendo um ataque especulativo.
Falando na coletiva de imprensa do Relatório Trimestral de Inflação, Galípolo ainda apontou que a mais recente decisão do Copom, que elevou a Selic em 1 ponto percentual e sinalizou mais duas altas da mesma magnitude, teve um peso maior dos indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Eu creditaria hoje essa inversão à atuação do BC. Entrou com mão pesada hoje e retirou a pressão, ao menos a mais aguda. Impacto foi imediato, impactou frontalmente a liquidez e o resultado veio", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
"E eu interpretei como positiva a fala do Galípolo, sobre a preocupação com a inflação principalmente. Este tipo de coisa geralmente passa uma mensagem positiva", completou.
Depois dos leilões e da coletiva, o dólar atingiu a mínima da sessão, a 6,12 reais (-2,36%), às 13h41, recuperando algumas perdas depois.
Por trás da fraqueza recente do real estão as preocupações dos investidores com o cenário fiscal brasileiro, à medida que o governo tenta avançar com suas medidas de contenção de gastos no Congresso, sendo essa a última semana para aprová-las antes do recesso de fim de ano.
A Câmara dos Deputados adiou para esta quinta-feira a votação da Proposta de Emenda à Constituição que restringe o acesso ao abono salarial, projeto que faz parte do pacote de ajuste fiscal, após ter aprovado na terça um outro texto do Executivo para corte de gastos.
Agentes financeiros temem que os projetos não sejam votados até o fim deste ano ou que as medidas sejam desidratadas, com ambas as possibilidades podendo comprometer a trajetória das contas públicas.
"Se não houver o mínimo de sinalização positiva ao mercado, não vai se sustentar nesse patamar atual. Embora eu acho que talvez esteja um pouco distendido, por fatores técnicos e também algum nível de especulação", disse Bergallo.
Na curva de juros brasileira, as taxas futuras reverteram as altas de mais cedo e recuavam, com quedas de mais de 20 pontos-base em alguns contratos.
No Relatório Trimestral de Inflação divulgado mais cedo, o BC piorou significativamente suas projeções para cumprimento da meta de inflação, estimando que a probabilidade de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta está perto de 100% neste ano, contra projeção anterior de 36%.
No exterior, o cenário era favorável ao dólar, com os mercados globais ainda reagindo à decisão do Federal Reserve na véspera, em que os membros reduziram a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, como previsto, mas sinalizaram um afrouxamento monetário menor do que o esperado anteriormente para o próximo ano.
"Deste ponto em diante, é apropriado avançar com cautela e buscar o progresso da inflação... a partir de agora, estamos em uma posição em que os riscos estão equilibrados", disse o chair do Fed, Jerome Powell, em uma coletiva de imprensa após o final da reunião de política monetária.
A perspectiva de menos cortes pelo banco central dos Estados Unidos implica rendimentos mais altos para os Treasuries, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros e gera fuga de capital em países emergentes.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,05%, a 108,310.