Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar registrou forte queda contra o real nesta sexta-feira após a divulgação de um importante relatório de emprego dos Estados Unidos e em meio a expectativas crescentes de mais estímulo econômico na maior economia do mundo, enquanto os investidores reagiam a comentários feitos pelo presidente Jair Bolsonaro nesta manhã.
O dólar à vista caiu 1,19% nesta sexta-feira, a 5,3849 reais, apresentando perda semanal de 1,71% contra a divisa brasileira. Na B3, onde as negociações vão até as 18h, o dólar futuro recuava 0,81%, a 5,385 reais.
Na mínima do pregão, o dólar spot chegou a tocar 5,3451 reais, refletindo a fraqueza da moeda norte-americana no exterior depois que dados desta sexta-feira mostraram que a criação de vagas de trabalho nos EUA ficou abaixo do esperado em janeiro, enquanto as perdas de emprego no mês anterior foram mais profundas do que se pensava inicialmente.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, disse à Reuters que os dados elevaram as apostas em mais estímulo econômico, citando também as perspectivas de juros baixos por mais tempo nos Estados Unidos.
O presidente dos EUA, Joe Biden, fez uma série de aparições nesta sexta-feira em que defendeu a aprovação de um pacote de alívio econômico que inclui cheques diretos à população afetada pela pandemia.
A Câmara dos Deputados do país aprovou um pacote orçamentário nesta sexta que permite aos democratas aprovarem o projeto de Biden --no montante de 1,9 trilhão de dólares-- sem apoio republicano.
Diante dessa expectativa, moedas de países emergentes, como lira turca, peso mexicano e rand sul-africano ampliaram seus ganhos contra o dólar durante o dia.
No Brasil, somavam-se à previsão de juros baixos nos EUA por mais tempo as apostas de aumento da taxa Selic ainda no primeiro semestre de 2021, disse Rostagno. Em sua última reunião de política monetária, o Banco Central abandonou seu compromisso de não elevar os juros desde que algumas condições estivessem satisfeitas.
Enquanto isso, os investidores também reagiam a comentários do presidente Jair Bolsonaro, que disse nesta manhã que o governo pretende enviar ao Congresso um projeto de lei para alterar a cobrança do ICMS, um imposto estadual, sobre os combustíveis, sem interferir na política de preços da Petrobras (SA:PETR4), o que levou as ações da empresa a subir mais de 3%. Bolsonaro também reforçou que todas as medidas de cunho econômico passam pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
O ministro, por sua vez, chamou a atenção ao dizer nesta sexta-feira que o governo vai reverter o aumento de arrecadação que já estaria em curso este ano para a desoneração tributária, e que já quer anunciar uma redução do PIS/Cofins sobre combustíveis em até duas semanas.
Num âmbito mais estrutural, os investidores seguem atentos à situação das contas públicas do país, que há meses é citada como fator de preocupação em meio a um Orçamento apertado para 2021 e uma dívida pública em patamar recorde.
"O investidor segue em compasso de espera, e a questão fiscal é o principal ponto" de atenção, disse à Reuters João Manuel Campanelli, COO do Travelex Bank. Ele destacou o debate em torno de mais medidas de auxílio emergencial, um dos principais motivos de cautela dos mercados, explicando que sua implementação sem desrespeito fiscal implicaria corte de gastos ou aumento de receitas.
Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), comprometeram-se nesta semana a avaliar uma forma de retomar o auxílio emergencial com respeito ao teto de gastos.
O dólar já sobe cerca de 3,7% contra o real no ano de 2021.