Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Caixa Econômica Federal teve forte alta no lucro do primeiro trimestre, apoiada em aumento de taxas de juros e de tarifas e na redução de despesas administrativas, mas deixou em aberto questões sobre o desempenho dos próximos trimestres, incluindo possíveis perdas ligadas o grupo J&F, dos irmãos Batista, controlador da JBS (SA:JBSS3).
"O futuro a Deus pertence, não tenho bola de cristal", disse a jornalistas nesta quarta-feira o vice-presidente de finanças e controladoria do banco, Arno Meyer. Ele respondeu a perguntas sobre previsões de desempenho da Caixa nos próximos trimestres em itens como provisão para perdas com calotes, que nos três primeiros meses do ano teve alta de 35,8 por cento sobre um ano antes.
Maior financiador do setor imobiliário do país, a Caixa anunciou nesta quarta-feira que o lucro líquido do período somou 1,49 bilhão de reais, alta anual de 81,8 por cento. Em termos recorrentes, o lucro subiu 49,6 por cento, a 1,68 bilhão.
Na contramão da média do mercado, a Caixa viu a carteira de crédito crescer 4,5 por cento em 12 meses, para 715 bilhões de reais em março, impulsionada pelos empréstimos imobiliários, que mais que compensaram a queda no financiamento a empresas.
Além de receitas maiores com empréstimos, que turbinaram o lucro, o banco também teve queda de 2,5 por cento nas despesas de captação e aumento nas taxas cobradas de clientes, o que fez a margem financeira bruta crescer 9,3 por cento em 12 meses.
As receitas com tarifas cresceram 13,7 por cento contra o primeiro trimestre de 2016, para 6 bilhões de reais. Além do aumento do valor das taxas cobradas, o banco também se beneficiou de um salto de 17,3 por cento com serviços como cobrança, para 811 milhões de reais.
Assim, a Caixa conseguiu compensar a disparada de 35,8 por cento da despesa com provisões para perdas com calotes, que chegaram a 5,17 bilhões de reais.
Segundo Meyer, a evolução dessas provisões do banco dependerá da melhora ou piora da qualidade do crédito. No primeiro trimestre, o índice de inadimplência de operações vencidas há mais de 90 dias foi de 2,83 por cento ante 3,51 por cento um ano antes.
O executivo evitou comentar sobre possíveis perdas da Caixa com operações envolvendo a JBS.
"Não tem nada do meu conhecimento", disse Meyer em resposta a pergunta se o banco detectou alguma irregularidade sobre eventuais favorecimentos à JBS.
Meyer disse que a Caixa deverá saber até junho o valor que terá que provisionar referente a perdas com investimento em outra empresa da J&F, a produtora de celulose Eldorado Brasil, feito por meio do fundo de pensão dos funcionários da Caixa (Funcef) no FIP Florestal, avaliado em 1,6 bilhão de reais.
Esse investimento fez o balanço da Caixa ter sido aprovado com ressalva pelo auditor independente.
"O laudo de avaliação da empresa Eldorado ainda não foi concluído, deve acontecer até junho", disse Meyer.
CORTES DE DESPESAS
Reforçando o foco da Caixa na melhora do resultado operacional como principal caminho para elevar a rentabilidade e o nível de capitalização, Meyer descartou que haja expectativa do banco para receber uma capitalização do governo federal.
"Não contamos com isso", disse o executivo.
No primeiro trimestre, o resultado foi favorecido pela queda de 15,8 por cento das despesas administrativas, a 2,83 bilhões de reais. A despesa com pessoal cresceu 17,2 por cento, a 5,88 bilhões, mas afetada por provisões de 560 milhões de reais para o programa de desligamento voluntário, com a saída de 4.429 empregados. Sem isso, o aumento teria sido de 6,1 por cento.
Mas a Caixa viu nova piora em importantes indicadores de solidez. A rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido foi de 7,56 por cento, queda de 2,6 pontos percentuais sobre um ano antes.
Na mesma comparação, o índice de Basileia recuou 0,1 ponto, a 13,59 por cento, com o índice de capital de nível 1 diminuindo 0,6 ponto, para 8,94 por cento.