Investing.com – A nomeação de Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês), ainda sujeita à aprovação do Senado, pode trazer mudanças importantes para o setor de alimentos nos EUA.
Kennedy é conhecido por criticar as grandes empresas alimentícias (“Big Food”) e por defender a retirada de produtos químicos da alimentação nos EUA. Suas propostas indicam um foco regulatório mais rigoroso, incluindo a ideia de declarar uma emergência nacional para doenças crônicas, o que pode levar a novas políticas para empresas de alimentos embalados.
Um dos principais pontos de atenção está nos programas de merenda escolar, que podem ser submetidos a regras mais rígidas relacionadas ao açúcar, sódio e gorduras trans.
“Embora os níveis de gorduras trans tenham sido amplamente reduzidos a quantidades mínimas por porção, alimentos como cereais açucarados, carnes processadas, sopas e iogurtes ainda podem ser impactados,” afirmaram analistas da Bernstein em uma nota.
“Além disso, é difícil definir com precisão o que são ‘alimentos processados,’ e a indústria tem histórico de ajustar gradualmente seus produtos para atender a novas regras sem grandes prejuízos,” acrescentaram.
Kennedy também defende a redução de corantes artificiais, como o Red 40 e o Yellow 5, já restritos em países da Europa. Empresas como PepsiCo (NASDAQ:PEP), WK Kellogg (NYSE:K), General Mills (NYSE:GIS) e Kraft Heinz (NASDAQ:KHC), cujos produtos frequentemente utilizam esses ingredientes, podem enfrentar maior fiscalização.
No setor de bebidas, Kennedy quer restringir o uso de benefícios do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP) para a compra de alimentos processados e bebidas açucaradas.
Segundo um estudo do USDA, 10% dos benefícios do SNAP são gastos em bebidas adoçadas, tornando-as um alvo provável para mudanças. Porém, “definir exatamente quais alimentos seriam excluídos da cobertura do SNAP seria um desafio,” ponderaram os analistas da Bernstein.
Mudanças mais amplas podem incluir programas para incentivar uma alimentação mais saudável, inspirados em modelos internacionais, como os impostos sobre açúcar na Europa ou a iniciativa do Reino Unido para reduzir produtos ricos em gordura, açúcar e sal.
Outra proposta que pode ganhar força é a adoção de rótulos informativos na frente das embalagens, aumentando a conscientização dos consumidores e reduzindo a procura por alimentos ultraprocessados.
A possível nomeação de Kennedy acontece em meio a pressões inflacionárias na cadeia de suprimentos alimentares, agravadas por escassez de mão de obra e possíveis restrições à imigração. Regras mais duras para subsídios agrícolas podem elevar os preços dos alimentos, mas também incentivar a produção de culturas mais saudáveis, mudando o cenário competitivo das fabricantes de alimentos processados.
Mesmo que grandes mudanças legislativas não se concretizem, a maior exposição midiática da agenda “Fazendo a América Saudável Novamente” de Kennedy pode influenciar a opinião pública, como já ocorreu em debates anteriores sobre a rotulagem de organismos geneticamente modificados (OGMs).
Campanhas anteriores na mídia sobre esses temas tiveram forte impacto no comportamento dos consumidores, reduzindo a demanda por alimentos ultraprocessados e aumentando o interesse por marcas com rótulos mais transparentes.
“Nos perguntamos se desta vez o impacto será semelhante,” refletiram os analistas.
Ainda assim, eles alertaram que as propostas de Kennedy podem enfrentar resistência. Parte dos eleitores de Trump, por exemplo, pode se opor ao que consideram uma interferência excessiva nas escolhas alimentares, o que pode limitar o alcance dessas iniciativas e reduzir o tempo de Kennedy no cargo.