BRASÍLIA (Reuters) - O empresário Lúcio Funaro afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que o presidente Michel Temer seria o destinatário de parte da propina negociada em esquema de corrupção comandado pelo ex-deputado Eduardo Cunha.
"Tenho certeza que parte do dinheiro que era repassado, que o Eduardo Cunha capitaneava em todos os esquemas que ele tinha, dava um percentual também para o Michel Temer", disse Funaro no depoimento, segundo vídeo divulgado no site do jornal Folha de S.Paulo.
"Eu nunca cheguei a entregar, mas o Altair (Altair Alves Pinto, emissário de Cunha) deve ter entregado, assim, algumas vezes", afirmou.
O jornal teve acesso ao depoimento prestado no dia 23 de agosto deste ano, em que o empresário, preso em Brasília, afirma que Temer "tinha conhecimento dos fatos".
O Palácio do Planalto respondeu, em nota, que "o presidente Michel Temer não fazia parte da bancada de ninguém", em referência ao grupo de Cunha, e que "toda e qualquer afirmação nesse sentido é falsa".
Em setembro, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de delação premiada do empresário Lúcio Funaro.
A partir da próxima terça-feira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara inicia o processo de discussão para a votação de parecer sobre a segunda denúncia contra o presidente Temer -- como haverá muitas inscrições para falas de deputados, o votação pode não ocorrer no mesmo dia.
Em nota, a defesa de Temer afirmou que "o vazamento de vídeos com depoimento prestado há quase dois meses pelo delator Lúcio Funaro constitui mais um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito" e que teria o objetivo de causar "estardalhaço" para constranger os parlamentares que votarão o parecer sobre a denúncia na CCJ.
"As afirmações do desqualificado delator não passam de acusações vazias, sem fundamento em nenhum elemento de prova ou indiciário, e baseadas no que ele diz ter ouvido do ex-deputado Eduardo Cunha, que já o desmentiu e o fez de forma inequívoca, assegurando nunca ter feito tais afirmações", diz a nota, assinada por Eduardo Pizarro Carnelós, advogado de Temer.
Na última terça-feira, o relator do caso na comissão, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), apresentou parecer pela rejeição da acusação contra o presidente.
O PMDB afirmou, também em nota que "reitera que delações estão sendo feitas sem que haja nenhuma comprovação e acredita que a justiça irá reconhecer a inocuidade das mesmas".
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)