Oscar René Oliva.
Guatemala, 19 abr (EFE).- O "sonho americano" dos milhares de
guatemaltecos que diariamente buscam esse objetivo pode terminar em
frustração e dívidas maiores que as deixadas em seu país, já que
muitas vezes eles acabam sendo deportados pelas autoridades
migratórias do México e dos Estados Unidos.
"Vimos casos muito dolorosos (de imigrantes) que fizeram
empréstimos que não podem pagar e que foram deportados e muitos
foram enganados e perderam seus bens", disse à Agência Efe Erick
Maldonado, secretário do Conselho Nacional de Atendimento ao
Migrante da Guatemala (Conamigua).
Os guatemaltecos que são deportados dos EUA, disse o funcionário,
voltam "frustrados e decepcionados", porque "em vez de cometer
crimes na Guatemala, fizeram empréstimos e agora estão com mais
dívidas".
As redes criminosas dedicadas ao tráfico de pessoas, acrescentou
Maldonado, cobram de cada imigrante "entre US$ 4 mil e US$ 6 mil,
dependendo dos graus de segurança", e, pelo mesmo preço, oferecem a
eles "até uma terceira oportunidade para entrar nos EUA".
"É um negócio rentável, mas é difícil detectar os membros das
redes, porque muitas vezes estão camuflados entre os próprios
imigrantes e os coiotes (traficantes de imigrantes ilegais) se
tornam pessoas que fazem empréstimos", afirmou.
Maldonado mostrou preocupação, já que "cada vez mais as pessoas
que migram são muito jovens, sobretudo mulheres", que se tornam
potenciais vítimas do crime organizado.
"As crianças e mulheres são altamente vulneráveis à exploração
sexual", disse o secretário da Conamigua, criada em 2007 para
garantir os direitos humanos dos imigrantes.
"As crianças vão trabalhar nas ruas e a Guatemala não é alheia a
esta exploração", disse.
Um recente estudo das autoridades mexicanas revelou que 80% das
pessoas provenientes da América Central que passavam por esse
território eram exploradas, segundo Maldonado.
Outro aspecto negativo deste fenômeno é a desintegração familiar
e a perda cultural, afirmou.
O funcionário acrescentou que "nós, como Estado, não podemos
dizer às pessoas que não migrem, porque é um direito que está ligado
ao desenvolvimento", mas lamentou que os imigrantes não invistam os
recursos que ganham e os utilizem para comprar bens caros para suas
famílias.
"Quando vamos ao interior do país, vemos nas paisagens pequenas
casas, mas que contam com televisores com TV por assinatura. Eles
perdem a dimensão do esforço que fizeram para ir aos EUA e enviar
dólares", disse.
"Infelizmente, agora as famílias já esperam o envio das remessas
e isso cria certa dependência, porque vão chegar US$ 100 ou US$ 200
para elas", mas "não destinam o dinheiro para a educação das
crianças, que quando atingem idade para trabalhar, param de estudar,
porque suas expectativas são seguir os passos do pai ou da mãe",
explicou Maldonado.
Apesar dos riscos e das constantes deportações, os guatemaltecos
não deixam de perseguir o "sonho americano", apontou o secretário.
Somente em 2009, mais de 27 mil imigrantes ilegais foram deportados.
No entanto, o fenômeno migratório tem seus pontos positivos. Um
deles é o aumento médio de renda nas zonas rurais, onde a qualidade
de vida melhorou, segundo um estudo de 2009 feito pela Mesa Nacional
para as Migrações na Guatemala (Menamig).
O envio das remessas dos EUA, que no ano passado alcançaram os
US$ 3,912 bilhões, beneficia 30,4% da população da Guatemala.
No entanto, entre os impactos negativos estão a perda da
produtividade, a fuga de capital humano, a queda da atividade
econômica local e a desintegração familiar, adverte o estudo. EFE