Cairo, 22 ago (EFE).- O ditador líbio, Muammar Kadafi, rejeitou
as críticas europeias à recepção dada em Trípoli ao terrorista
Abdelbaset Ali Mohammed Al-Megrahi, condenado pelo atentado de
Lockerbie e solto esta semana pela Escócia, informou hoje a agência
oficial de notícias local "Jana".
Kadafi, vestido com uma túnica negra, recebeu em casa com um
forte abraço Megrahi, que respondeu beijando a mão do ditador, como
mostrou a TV líbia.
O líder líbio aproveitou a ocasião para expressar sua satisfação
com a libertação do terrorista líbio, que sofre de um câncer
terminal.
"Quero enviar uma mensagem a nossos amigos da Escócia (...), a
quem felicito por sua coragem ao terem demonstrado a independência
na tomada de decisões, apesar das pressões inaceitáveis e ilógicas
enfrentadas", disse Kadafi.
O ditador também agradeceu ao chefe de Governo britânico, Gordon
Brown, à rainha Elizabeth II, e ao príncipe Andrew, por também terem
apoiado o Governo escocês "a assumir esta decisão histórica e
atrevida".
"Este passo beneficia os laços entre Líbia e Reino Unido, e a
amizade entre eu e eles, e se refletirá positivamente em todas as
áreas de cooperação", ressaltou o líder.
Kadafi criticou a reação europeia à libertação de Meqrahi e a
comparou com o caso das cinco enfermeiras búlgaras e do médico
palestino que foram presos em 1998 e condenados à morte em 2004,
após serem considerados culpados de infectar deliberadamente mais de
400 crianças líbias com o vírus da aids.
"A Líbia enfrentou sua responsabilidade e comutou a pena de morte
para prisão perpétua à equipe de enfermeiras búlgaras, e respondeu
ao pedido do meu amigo (o presidente francês, Nicolas) Sarkozy, e
pela França aceitamos que os condenados por cometer assassinato em
massa cumprissem a pena em seu país de origem", disse o ditador.
Kadafi lembrou, porém, que a equipe médica recebeu indulto antes
mesmo de chegar ao aeroporto e que o presidente búlgaro recebeu seus
compatriotas como heróis.
"Depois, infelizmente, o Parlamento Europeu recebeu essa equipe
médica de pé e com aplausos porque eram heróis. Por que não ouvimos
protestos contra a absolvição dessa equipe médica?. Por que não se
disse que esse comportamento feria os sentimentos das família das
vítimas líbias?", questionou Kadafi.
Para ele, a reação europeia era uma clara mostra de uma política
de dois pesos e duas medidas, soberba e de menosprezo a outros povos
e a seus sentimentos.
"O terrorismo tem suas causas nas políticas de dois pesos e duas
medidas", concluiu o ditador líbio, citado pela agência "Jana". EFE