Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A derrocada do preço internacional do petróleo reduziu em cerca de 2 bilhões de reais no ano passado o custo enfrentado pelo Brasil com o uso das termelétricas mais caras, movidas a óleo e diesel, em tendência que deve continuar em 2016, afirmou à Reuters uma consultoria especializada.
O custo de operação de térmicas a óleo e diesel é definido por uma fórmula que inclui variáveis como o preço do petróleo Brent, que desde os picos de 2014 até hoje registrou baixa de cerca de 70 por cento, queda que mais do que compensou o câmbio, outro fator que é levado em consideração no cálculo.
"Em 2015 houve uma queda anual em torno de 20 por cento no custo médio de combustível (das térmicas) mesmo com uma apreciação do dólar em torno de 40 por cento", afirmou o sócio da consultoria Esfera Energia, Braz Justi, nesta segunda-feira.
A Esfera Energia calcula que o país gastou cerca de 7,3 bilhões de reais em combustíveis para as térmicas a óleo e diesel em 2015, ano em que essas usinas ficaram ligadas praticamente todo o tempo para garantir o suprimento em um momento em que as hidrelétricas sofriam com reservatórios em baixos níveis devido à seca.
Esse conjunto de térmicas representa cerca de 3,5 mil megawatts em capacidade instalada, dos quais cerca de 26 por cento movidas a diesel, segundo a consultoria.
Em 2014, quando as térmicas também passaram o ano ligadas e geraram mais energia que em 2015, o custo foi de 11,5 bilhões de reais.
Em 2016, a Esfera estima que usinas a diesel já tiveram queda de 9,5 por cento no custo, enquanto as a óleo combustível viram redução de 27,5 por cento.
O petróleo é negociado atualmente em cerca de 33 dólares o barril, enquanto alguns analistas estimam que a commodity pode chegar à casa dos 20 dólares o barril neste ano, caso a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não feche um acordo para redução da oferta.
O mercado baixista da commodity evitou que as tarifas de eletricidade tivessem peso ainda maior na inflação em 2015, em um ano em que o Banco Central projetou uma alta de 52,3 por cento nos custos da energia elétrica.
"Certamente, essa queda no custo de geração térmica viabilizou a redução de custo das bandeiras tarifárias", afirmou Justi. "E este ano ainda tem tendência de queda."
Criadas justamente em 2015 para custear o uso das termelétricas, as bandeiras tarifárias acrescentam um custo extra às tarifas de eletricidade, dependendo do nível de utilização dessas usinas.
A bandeira vermelha, que sinaliza intenso uso das térmicas, iniciou 2015 representando custo extra de 3 reais por megawatt-hora. Em março, o valor subiu para 5,50 reais. Em setembro houve redução para 4,50 reais e, em fevereiro deste ano, nova queda, para 3 reais.
MENOR CUSTO
Justi destacou que essa redução no custo das térmicas ainda poderia sido bem maior não fosse a depreciação do real, uma vez que tanto o preço do petróleo Brent quanto a cotação do dólar são utilizados para definir o custo de operação das térmicas.
De qualquer maneira, o país deverá ver uma redução de custos com o acionamento de térmicas neste ano frente a 2015, uma vez que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) decidiu no início do mês que em março serão desligados cerca de 2 mil megawatts em usinas a combustíveis fósseis.
O desligamento envolverá usinas com custo de operação superior a 420 reais por megawatt-hora.
Justi disse acreditar que mais térmicas serão desligadas gradualmente ao longo do ano, de acordo com a evolução no cenário hidrológico.
As chuvas em janeiro e na primeira semana de fevereiro foram consideradas amplamente favoráveis e, inclusive, abriram o caminho para o desligamento de térmicas anunciado pelo CMSE.