Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O espaço para apreciação do real está menor, uma vez que a convicção de um dólar mais fraco no mundo também diminuiu e a posição técnica no mercado doméstico de câmbio piorou, avaliou nesta quarta-feira Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia macro da gestora AZ Quest.
Segundo ele, o resultado das eleições no Congresso --com vitória por larga margem de candidatos apoiados pelo governo-- reforçou a expectativa de andamento da agenda reformista, o que é benéfico para o real.
Porém, Zerbini disse acreditar que apenas medidas vistas pelo gestor como menos polêmicas sejam aprovadas, em detrimento das chamadas reformas estruturantes. Ele citou os projetos sobre independência do Banco Central, novo marco legal do setor de gás natural e fim do regime de partilha na exploração de petróleo.
"O que pode fazer avançarmos com uma PEC Emergencial, por exemplo, é um retorno do auxílio emergencial, mas não temos isso na conta, porque a economia está andando, estamos construtivos com a vacinação e não estamos vendo as estatísticas de Manaus se espalhando", afirmou. Para o gestor, 100 milhões de doses de imunizantes --o suficiente para vacinar 50 milhões de pessoas-- resolveriam o "problema do país".
Incluindo à lista de "drivers" para o câmbio a perspectiva de alta de juros, uma posição técnica menos favorável (depois do rali do fim do ano passado) e a defasagem ante pares, Zerbini avalia que o saldo para o real ainda é positivo, com a moeda podendo ir a 5,15, 5,10 por dólar até o fim do ano, ante os atuais 5,37 por dólar.
"Porém, antes achávamos que poderia ir a 4,80 reais por dólar. O câmbio segue defasado ante pares, o problema agora é que o cenário para o dólar global não está claro", afirmou.
O real perde 3,3% em 2021, depois de tombar 22,7% em 2020, num dos piores desempenhos globais.
"Antes tínhamos convicção de que o dólar era para baixo (no mundo), mas cada vez mais os diferenciais de crescimento têm pesado. E, nesse quesito, os Estados Unidos vão dar aula", afirmou.
O índice do dólar contra uma cesta de moedas caiu 6,8% em 2020, pressionado por amplas medidas de estímulo de governos e bancos centrais para enfrentamento da pandemia, o que levou vários analistas a prever tendência duradoura de enfraquecimento da moeda norte-americana.
Contudo, o dólar começou 2021 em recuperação e já sobe 1,3% no período. O euro recua 1,6% ante a divisa dos EUA, pressionado por sinais de que os Estados Unidos estão em recuperação mais rápida do que a Europa, cuja economia corre risco de voltar a uma recessão.
De acordo com Zerbini, as maiores posições de "risco construtivo" nos fundos macro da casa estão em bolsas globais (incluindo a brasileira), com cerca de 70%. Mas o mercado doméstico agora tem mais peso na composição do que antes.
Os demais 30% estão "pulverizados" entre câmbio e juros, sobretudo. O gestor espera alguma desinclinação no miolo da curva de juros, considerando o cenário político e a expectativa de normalização da Selic.