Por John Chalmers e Sabine Siebold
(Reuters) - O ataque fatal no aeroporto de Cabul sublinha a verdadeira situação enfrentada por potências ocidentais no Afeganistão: trabalhar com o Taliban pode ser a melhor chance de evitar que o país se transforme novamente em um terreno fértil para a militância islâmica.
Quase duas semanas após a volta surpreendente do Taliban ao poder, autoridades da Europa estão começando a reconhecer que sua opção pragmática é deixar de lado o desgosto com os novos líderes do país e trabalhar com eles.
"Está claro: o Taliban é uma realidade no Afeganistão agora", disse a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta semana. "Esta nova realidade é amarga, mas temos que trabalhar com ela".
Uma autoridade de alto escalão da União Europeia disse que não basta as potências do G7 assumirem ares de superioridade e adotarem uma postura agressiva diante do Taliban, até porque isto daria à China e à Rússia uma voz maior no futuro do país.
O funcionário disse que, nos últimos dias, Paquistão e Turquia pediram que as nações ocidentais "não encurralem o novo regime rápido demais", que suspendam a imposição de sanções a Cabul e que mantenham os canais de debate abertos para evitar um colapso de segurança e imigração, que teria repercussões em todo o globo.
Mandar ajuda será uma parte importante desta assistência, dada a crise humanitária em um país assolado pelo conflito e pela seca, no qual 5,5 milhões de seus 40 milhões de habitantes são deslocados internos.
A UE disse nesta semana que aumentará seu auxílio aos afegãos ainda no país e àqueles em fuga de 50 milhões de euros para mais de 200 milhões.
Os Estados Unidos estão adotando medidas para permitir que o trabalho humanitário continue, mas não reduziram a pressão das sanções sobre o Taliban, que designa como uma organização terrorista.
Os EUA não parecem ter se rendido à visão de algumas capitais europeias de que o Taliban é a opção menos pior.
A retirada norte-americana desordenada do Afeganistão depois de 20 anos tentando levar estabilidade e democracia ao país é "um impulso enorme para o moral de radicais islâmicos de toda a parte", nas palavras de Ryan Crocker, ex-embaixador dos EUA no Afeganistão.
Os atentados de homens-bomba diante do aeroporto de Cabul na quinta-feira, reivindicados pelo Estado Islâmico, um inimigo tanto do Ocidente quanto do Taliban, foram um lembrete de que militantes extremistas podem fincar pé caso se permita que o país imploda.