(Reuters) - Supostos combatentes suicidas atacaram os portões lotados do aeroporto de Cabul com pelo menos duas explosões nesta quinta-feira, provocando um banho de sangue entre civis desesperados que esperavam fugir do Afeganistão e gerando caos nos últimos dias de retiradas aéreas de aliados por países ocidentais.
Um oficial do Taliban disse que pelo menos 13 pessoas, incluindo crianças, foram mortas. Um hospital cirúrgico administrado por uma instituição de caridade italiana disse que está tratando mais de 60 feridos. O Pentágono informou que há militares norte-americanos entre os feridos.
Vídeos na internet gravados por um jornalista afegão mostram uma pilha de corpos encharcados de sangue em uma rua cercada por escombros. O homem que estava filmando chorava.
"Podemos confirmar que a explosão no portão 'Abbey' foi o resultado de um ataque complexo que resultou em uma série de vítimas norte-americanas e civis. Também podemos confirmar pelo menos uma outra explosão no Baron Hotel ou próximo a ele, a uma curta distância do Abbey", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, no Twitter.
A explosão ocorreu em meio a um período em que multidões se reúnem na parte de fora do aeroporto, onde afegãos desesperados se aglomeram na esperança de escapar por via aérea em uma retirada que, segundo os Estados Unidos, terminará na terça-feira, após a rápida captura do país pelo Taliban.
Não houve relatos imediatos de responsabilidade pelas explosões, mas os EUA e seus aliados pediram aos civis que ficassem longe do aeroporto por causa de uma ameaça de ataque suicida por militantes do Estado Islâmico, que é inimigo tanto do Ocidente quanto do Taliban.
Os países ocidentais retiraram quase 100 mil pessoas nos últimos 12 dias, a maioria afegãos que os ajudaram. Mas eles reconhecem que outros milhares serão deixados para trás após a ordem do presidente Joe Biden de retirar todas as tropas até 31 de agosto.
Diversas autoridades norte-americanas disseram que a explosão pareceu ser um atentado suicida. Uma testemunha em Cabul viu muitos homens, mulheres e crianças feridos à espera de tratamento do lado de fora de um hospital.
Um representante do Taliban disse que muitos combatentes do Taliban, que cercam o perímetro do aeroporto, estavam entre os feridos.
"Nossos guardas também estão arriscando suas vidas no aeroporto de Cabul, eles também enfrentam uma ameaça do grupo do Estado Islâmico", disse um oficial do Taliban sob condição de anonimato e antes dos relatos da explosão.
Fim da retirada
A retirada aérea de civis está em seus dias finais, com os EUA dizendo que usarão os últimos dois dias principalmente para transferir suas próprias tropas. Os aliados que lutaram ao lado das forças norte-americanas por 20 anos no Afeganistão estão encerrando suas próprias retiradas enquanto lamentam publicamente a pressa de Washington em se retirar.
As forças canadenses interromperam a retirada de cerca de 3.700 cidadãos canadenses e afegãos nesta quinta-feira, dizendo que permaneceram o máximo que puderam.
"Gostaríamos de poder ter ficado mais tempo e resgatado todos", disse o chefe interino da equipe de defesa do Canadá, general Wayne Eyre, a repórteres.
O presidente dos EUA, Joe Biden, ordenou que todas as tropas saíssem do Afeganistão até o final do mês para cumprir o acordo de retirada com o Taliban, negociado por seu antecessor Donald Trump. Ele rejeitou os pedidos por mais tempo de aliados europeus.
Estado islâmico
Combatentes alegando fidelidade ao Estado Islâmico começaram a surgir na parte leste do Afeganistão no final de 2014. Eles estabeleceram uma reputação de extrema brutalidade enquanto lutavam contra o Taliban por razões ideológicas e para controlar o contrabando local e as rotas de narcóticos, de acordo com os serviços de inteligência ocidentais.
Desde o dia anterior à invasão do Taliban em Cabul, os Estados Unidos e seus aliados realizaram uma das maiores retiradas aéreas da história, transportando cerca de 95.700 pessoas, incluindo 13.400 na quarta-feira, informou a Casa Branca nesta quinta-feira.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que pelo menos 4.500 cidadãos norte-americanos e suas famílias foram retirados do Afeganistão desde meados de agosto.
O Taliban encorajou os afegãos a ficar, embora afirme que aqueles com permissão para sair ainda poderão fazê-lo assim que as tropas estrangeiras partirem e os voos comerciais forem retomados.
O regime do Taliban, de 1996 a 2001, foi marcado por execuções públicas e pela restrição de liberdades básicas. As mulheres eram proibidas de ir à escola ou ao trabalho. O grupo foi derrubado há duas décadas por forças lideradas pelos EUA por receber os militantes da Al-Qaeda, responsáveis pelos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.
O Taliban disse que respeitará os direitos humanos de acordo com a lei islâmica e não permitirá que terroristas operem dentro do país.
(Reportagem de redações da Reuters)