Por Boureima Balima e Felix Onuah
NIAMEY/ABUJA (Reuters) - As nações da África Ocidental impuseram sanções econômicas e de viagem aos novos líderes militares do Níger neste domingo, ameaçando usar a força se eles não reestabelecerem o presidente deposto Mohammed Bazoum dentro de uma semana.
A resposta do bloco de 15 nações da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) ao sétimo golpe na região africana do Sahel nos últimos anos ocorreu no momento em que apoiadores pró-junta na capital do Níger, Niamey, queimaram bandeiras francesas e apedrejaram a embaixada da ex-potência colonial, atraindo gás lacrimogêneo da polícia.
Imagens mostraram incêndios nas paredes da embaixada francesa e pessoas sendo colocadas em ambulâncias com as pernas ensanguentadas.
Em uma cúpula de emergência na Nigéria para discutir o golpe da semana passada, os líderes da Cedeao pediram que a ordem constitucional fosse totalmente restaurada, alertando sobre represálias.
"Tais medidas podem incluir o uso da força", disse um comunicado, acrescentando que as autoridades de defesa se reuniriam imediatamente para esse efeito.
A Cedeao e a União Econômica e Monetária da África Ocidental, formada por oito membros, também disseram que, com efeito imediato, as fronteiras com o Níger serão fechadas, os voos comerciais proibidos, as transações financeiras interrompidas, os ativos nacionais congelados e a ajuda financeira encerrada.
Os militares envolvidos no golpe serão proibidos de viajar e terão seus bens congelados, acrescentou.
Sanções semelhantes foram impostas pela Cedeao ao Mali, Burkina Faso e Guiné após golpes nesses países nos últimos três anos. Embora as sanções financeiras tenham levado à inadimplência de dívidas --no Mali em particular-- elas apenas fizeram com que as juntas concordassem com cronogramas para retornar ao regime constitucional.
O golpe militar no Níger, que começou na quarta-feira, foi amplamente condenado por vizinhos e parceiros internacionais, incluindo os Estados Unidos, as Nações Unidas, a União Africana, a União Europeia e a ex-potência colonial França.
Todos eles se recusaram a reconhecer os novos líderes liderados pelo general Abdourahamane Tiani.
O Níger é um dos países mais pobres do mundo, recebendo cerca de 2 bilhões de dólares por ano em assistência oficial ao desenvolvimento, de acordo com o Banco Mundial.
PROTESTOS ANTI-FRANÇA
Antes da cúpula da Cedeao, os líderes militares do Níger alertaram contra qualquer intervenção militar.
"O objetivo da reunião (da Cedeao) é aprovar um plano de agressão contra o Níger por meio de uma intervenção militar iminente em Niamey em colaboração com outros países africanos não membros da Cedeao e alguns países ocidentais", disse o porta-voz da junta, coronel Amadou Abdramane.
"Queremos mais uma vez lembrar a Cedeao ou qualquer outro aventureiro de nossa firme determinação em defender nossa pátria."
A seu convite, milhares de pessoas protestaram na capital no domingo, tendo como alvo principalmente a Embaixada da França.
"Estamos aqui para expressar nosso descontentamento contra a interferência da França nos assuntos do Níger. O Níger é um país independente e soberano, então as decisões da França não têm influência sobre nós", disse o manifestante Sani Idrissa.
Depois de se reunirem numa praça pública no centro de Niamey, alguns dirigiram-se à missão diplomática francesa.
Semelhante aos eventos em Burkina Faso em setembro do ano passado após um golpe, alguns manifestantes tentaram escalar as paredes da embaixada, enquanto outros pisaram em bandeiras francesas em chamas. Alguns jovens atiraram pedras no prédio da embaixada antes que os manifestantes fossem dispersados pela guarda nacional do Níger.
A França condenou a violência.
"Qualquer um que ataque cidadãos franceses, militares, diplomatas ou interesses franceses estimulará uma resposta imediata e intransigente da França", disse o país em um comunicado.
Os governantes militares do Níger mais tarde pediram aos manifestantes que se abstivessem de vandalismo e destruição de propriedade.