Por Steven Grattan e Leonardo Benassatto
SÃO PAULO (Reuters) - Em um dos maiores terminais de ônibus da América Latina, no centro de São Paulo, Rerizenil de Paula Santos, de 84 anos, espera em um ônibus decorado com luzes de neon e pichações brilhantes em meio à agitação da hora do rush.
É a décima vez que ela embarca nesse projeto inédito, conhecido como centro cultural sobre rodas. Seu objetivo: trazer arte e música para a vida dos trabalhadores brasileiros.
O ônibus é decorado com iluminação profissional e sistema de som, e todas as terças-feiras os organizadores convidam novos artistas musicais ou teatrais para entreter os passageiros, que podem se inscrever online ou embarcar na rua se houver espaço.
“O ônibus urbano como um centro cultural sobre rodas, ele tem o propósito da democratização e a descentralização do acesso às artes”, disse o organizador do projeto, Anderson Maurício.
“A gente vive uma população na sua grande maioria periférica e à margem do acesso artístico. E o ônibus é um pouco essa ponte, esse lugar de conseguir fazer, promover o encontro e promover essa arte sem fronteiras”, disse Maurício, que é ator, falando na estação Parque Dom Pedro.
Maurício, de 40 anos, conta que a ideia surgiu de sua experiência pessoal nas árduas cinco horas diárias de deslocamento que fazia até a cidade como estudante de teatro.
"Boa parte do meu tempo era dentro de um ônibus, dentro do transporte público. E foi aí que eu pensei poxa, o ônibus. Ele é uma casa itinerante do sujeito periférico e, por que não, um espaço cultural?", disse ele.
O projeto, que recebeu recursos públicos, começou em 2019, mas seu sucesso foi interrompido pela pandemia da Covid-19.
Agora, pessoas de todas as idades e origens se sentam lado a lado para o passeio gratuito. Jovens estudantes, passageiros de meia-idade e um morador de rua todos embarcaram no dia da visita da Reuters.
"Você entra aqui, todo mundo se diverte e eu acho lindo, maravilhoso. Não poderia ser mais bonito", disse a passageira Rerizenil Paula Santos.
Espectadores na rua espiam pelas janelas incrédulos enquanto o ônibus faz sua jornada de uma hora pelo centro da cidade.
"Eu fiquei impressionado com a qualidade do som, com a beleza estética de tudo. O conceito de chegar aqui por sorteio.", disse o músico Leve Venturoti, 24 anos, a bordo pela primeira vez.
"Acho que isso acaba comprovando que é verdade mesmo que vocês conseguem democratizar pra todo mundo. Então vai gente de idade, vai gente mais velha, mais nova", afirmou.