Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques foi preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira em uma operação para esclarecer suposta interferência da PRF no segundo turno das eleições de 2022.
Vasques foi preso por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em atendimento a pedido da PF pela expedição de mandados de prisão preventiva, de busca e apreensão pessoal e de busca e apreensão domiciliar, de acordo com a decisão tornada pública pelo magistrado após o cumprimento das ordens.
"A efetividade das inúmeras e necessárias oitivas de agentes da Polícia Rodoviária Federal sobre eventual determinação de Silvinei Vasques, então diretor-geral da PRF, para realização de 'policiamento direcionado', pode ser prejudicada pela manutenção de liberdade do investigado", afirmou o ministro, considerando "gravíssimas" as condutas imputadas a Vasques.
No segundo turno das eleições presidenciais do ano passado, a PRF, então comandada por Vasques, realizou operações e blitze em estradas do Nordeste, retardando a chegada de eleitores aos locais de votação, o que levantou suspeita de tentativa de interferência no pleito.
O então candidato Luiz Inácio Lula da Silva recebeu mais votos do que seu adversário, o então presidente Jair Bolsonaro, no Nordeste. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisou determinar o fim das operações nas estradas para não atrapalhar as eleições.
"A prisão hoje do Silvinei é a constatação real de que a CPMI está adotando uma linha de investigação correta em consonância com fatos, e não com narrativas", disse a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, em entrevista a jornalistas em Brasília.
A relatora afirmou que os membros da CPMI ainda não tiveram acesso ao inquérito da PF, mas que a prisão de Silvinei confirma que seu depoimento à comissão em 20 de junho foi cercado de inverdades sobre a atuação da PRF no segundo turno da eleição.
Ela disse que pretende apresentar um requerimento com o pedido da reconvocação do ex-diretor da PRF para depor novamente à CPMI. "Quando Silvinei esteve aqui na comissão, ele mentiu de uma forma escancarada, em várias linhas", afirmou.
Não foi possível contactar de imediato a defesa de Vasques.
Mais cedo, uma fonte ligada à operação da PF havia informado à Reuters sobre a prisão preventiva, que ocorreu em Florianópolis (SC). "Ele foi detido e será ainda hoje levado em avião da PF para Brasília", disse a fonte.
A PF informou em nota, sem identificar os alvos da operação, que dez mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva, expedidos pelo STF, estavam sendo cumpridos em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte. A operação conta com o apoio da Corregedoria Geral da PRF, que determinou ainda a oitiva de 47 policiais rodoviários federais.
De acordo com a PF, "os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal Brasileiro, e os crimes de impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio e ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado partido ou candidato, do Código Eleitoral Brasileiro".
A ação desta quarta-feira foi batizada de “Operação Constituição Cidadã”, em referência, segundo a PF, à "Lei Maior do Brasil, promulgada em 1988, a qual, pela primeira vez na história do país, garantiu a todos os cidadãos o direito ao voto, maior representação da Democracia".
(Reportagem adicional de Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello, em Brasília)