(Reuters) - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta sexta-feira que levará a proposta sobre a implantação de um voto impresso para urnas eletrônicas nas eleições ao plenário da Casa, apesar de a proposta ter sido derrotada em comissão especial sobre o tema na véspera.
Lira disse que a decisão visa pacificar as eleições de 2022, depois que o tema do voto impresso se tornou motivo de enorme tensão entre o presidente Jair Bolsonaro --ferrenho defensor da proposta-- e a cúpula do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que defende a lisura do sistema atual.
"Pela tranquilidade das próximas eleições e para que possamos trabalhar em paz até janeiro de 2023, vamos levar a questão do voto impresso para o plenário, onde todos os parlamentares eleitos legitimamente pela urna eletrônica vão decidir", disse Lira, em pronunciamento transmitido pela TV Câmara.
"Para quem fala que a democracia está em risco, não há nada mais livre, amplo e representativo que deixar o plenário manifestar-se", acrescentou.
Segundo Lira, a polêmica do voto impresso está "pautando o Brasil", o que não é justo uma vez que o país tem desafios a enfrentar como a pandemia de Covid-19 e a necessidade de reformas econômicas.
"O plenário será o juiz dessa disputa, que já foi longe demais", afirmou.
Na véspera, a comissão especial da Câmara rejeitou por 23 votos a 11 a adoção do voto impresso pelas urnas eletrônicas, em uma importante derrota para Bolsonaro.
Como se trata de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), para a mudança ser aprovada precisa do apoio de 308 dos 513 deputados em dois turnos de votação e depois, também em duas rodadas, os votos de 49 dos 81 senadores.]
Bolsonaro alega fraudes nas eleições desde março de 2020, quando prometeu mostrar provas de que teria vencido as eleições de 2018 no primeiro turno, o que não fez.
Nas últimas semanas, com a popularidade em queda e com pesquisas mostrando que pode perder a reeleição, ele tem defendido fortemente que seja aprovada a adoção do voto impresso com o objetivo de, segundo ele, garantir que as eleições de 2022 não sejam fraudadas. O presidente chegou inclusive a colocar em dúvida a realização da eleição sem a aprovação da medida.
Apesar das afirmações do presidente, não há relatos de fraudes envolvendo as urnas eletrônicas, e o TSE garante que o sistema é seguro e tem diversas formas de auditoria.
"Botão amarelo"
Aliado de Bolsonaro, Lira afirmou que não apoiará qualquer atuação fora da legalidade.
"Não contem comigo com qualquer movimento que rompa ou macule a independência e a harmonia entre os Poderes, ainda mais como chefe do Poder que mais representa a vontade do povo brasileiro", disse.
O presidente da Câmara acrescentou que segue com o botão amarelo apertado. Em março, Lira disse que havia acendido um "sinal amarelo" e mencionou a possibilidade de se usar remédios amargos, em meio às insatisfações à época do Congresso com o governo federal.
"Segue com a pressão do meu dedo. Estou atento. 24 horas atento. Todo tempo é tempo", disse Lira, que tem mais de 100 pedidos de impeachment de Bolsonaro em sua gaveta, nesta sexta.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Reportagem adicional de Ricardo Brito, em Brasília)