Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vai realizar viagens oficiais à Argentina, aos Estados Unidos e à China nos três primeiros meses de governo para reconstruir as relações internacionais do Brasil, disse o futuro ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira.
"O presidente Lula me orientou que eu traga o Brasil de volta para o cenário internacional. Será uma política de reconstruir pontes, primeiramente com nossos vizinhos", disse Vieira, acrescentando que o presidente eleito também orientou que seja reconstruído o relacionamento com parceiros tradicionais, como EUA, China e União Europeia.
"Queremos ter uma relação intensa, produtiva, mas equilibrada e soberana", afirmou.
Um dos planos de Lula para a política externa é retomar os fóruns regionais que ele ajudou a formar em seus primeiros mandatos como presidente, e que estão abandonados atualmente. Entre eles, a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), abandonada desde 2017, e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que se mantém, mas sem um papel relevante na região.
O encontro da Celac, marcado para a terceira semana de janeiro, em Buenos Aires, deverá ser a primeira viagem internacional de Lula, que emendará, segundo Vieira, uma reunião bilateral com o presidente argentino, Alberto Fernández, mantendo a tradição da Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, ser o primeiro país visitado pelo presidente brasileiro --o que foi quebrado pelo atual presidente Jair Bolsonaro.
Vieira confirmou também que Lula irá o mais brevemente possível aos Estados Unidos. O convite do presidente norte-americano Joe Biden para que Lula vá aos EUA foi feito há duas semanas, e chegou-se a cogitar que acontecesse ainda em dezembro. No entanto, o mais provável é que a visita aconteça no final de janeiro.
De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, uma outra viagem tradicional foi descartada por Lula, a ida ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. O governo deverá ser representado pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e possivelmente pelo indicado ou indicada para o Ministério do Meio Ambiente. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também não deverá ir.
ACORDOS
Mauro Vieira indicou ainda que as negociações para um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia serão retomados assim que possível, e a continuidade do processo de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) será analisada.
"Tem pontos positivos", disse Vieira sobre o processo. "Mas vamos analisar ainda."
Já em relação ao acordo com a UE, o embaixador defendeu que as negociações sejam retomadas o mais brevemente possível, e acredita que o Brasil o fará em uma situação melhor, já que o presidente eleito já anunciou uma política ambiental mais palatável para a UE.
Acertado no primeiro governo de Bolsonaro, o acordo não foi adiante porque países europeus recusaram-se a ratificá-lo diante dos números alarmantes do desmatamento no Brasil durante os últimos anos.
Vieira ainda anunciou o nome da embaixadora Maria Laura Rocha para ser secretária-geral do Itamaraty, confirmando a negociação antecipada pela Reuters de ter mulheres em postos-chave da pasta para contrabalançar o fato de, mais uma vez, o MRE ter um chanceler homem.
A relação antiga de Lula e do ex-chanceler Celso Amorim, além da experiência de Vieira --chanceler no governo Dilma Rousseff, embaixador em Washington, Buenos Aires e nas Nações Unidas-- pesaram em favor do embaixador. No entanto, a tradicional predominância de homens na diplomacia brasileira tem pesado contra o Itamaraty.
Para contrabalançar o fato de que, mais uma vez, a pasta não terá uma mulher no comando, o acordo foi de que o segundo nome da diplomacia seria uma mulher, assim como possivelmente a indicada para uma das principais embaixadas, em Washington ou Buenos Aires.