Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - A Marinha brasileira destacou nesta segunda-feira uma equipe de dez pessoas para procurar o jornalista britânico Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira, que desapareceram enquanto trabalhavam em uma região remota da floresta amazônica, perto da fronteira com o Peru.
A assessora da Marinha na cidade de Tabatinga, na região da fronteira, Cibelly Lopes disse que a embarcação da Marinha chegaria à base isolada de Atalaia do Norte por volta das 19h. A equipe da Marinha se dirigiria então à comunidade ribeirinha de São Gabriel, onde os dois homens foram vistos pela última vez, na manhã de domingo.
A Polícia Federal informou em nota que também trabalha para localizar a dupla. Um membro da PF em Tabatinga disse na tarde desta segunda que ainda não havia informações sobre o paradeiro dos dois, ou sobre o que pode ter acontecido.
Phillips, um jornalista freelancer de 57 anos que escreve há anos sobre o Brasil para o jornal britânico The Guardian, os norte-americanos Washington Post e o New York Times, entre outros, estava em viagem de reportagem pelo Vale do Javari com Pereira, considerado um dos maiores especialistas do Brasil em tribos isoladas.
O Vale do Javari é terra do maior número de povos indígenas isolados, que habitam uma área do tamanho da Irlanda, ameaçada por mineradores, madeireiros e caçadores ilegais, além de grupos cada vez mais presentes de cocaleiros, que produzem materiais brutos para a cocaína.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas para as eleições de outubro, falou sobre o desaparecimento no Twitter: "Espero que sejam encontrados logo, que estejam bem e em segurança".
Em uma nota detalhada sobre o desaparecimentos dos dois, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou que eles haviam recebido ameaças nos últimos dias. Não ficou claro se as ameaças foram feitas a membros da Univaja ou a Phillips e Pereira.
A Survival International, uma ONG em defesa dos povos indígenas, disse que Pereira recebeu ameaças por causa de seus muitos anos de trabalho com comunidades indígenas "o que torna a necessidade de uma ação imediata para localizá-los ainda mais urgente".
Carlos Martinez de la Serna, diretor do Comitê para a Proteção dos Jornalistas de Nova York, afirmou em comunicado que o desaparecimento de Phillips é "extremamente preocupante" e pediu às autoridades brasileiras que localizem os dois homens rapidamente.
"Jornalistas que relatam questões indígenas estão fazendo um trabalho crucial e têm de poder fazê-lo sem temer por sua segurança", disse ele.
A Univaja informou que os dois homens viajavam em um pequeno barco com um motor de 40 cavalos, mas que a área era de difícil penetração por conta da floresta densa e vegetação aquática. Dois grupos da Univaja também foram enviados para procurar pelo indigenista e pelo jornalista.
Um porta-voz do Escritório de Relações Exteriores do Reino Unido afirmou que eles estão em contato com as autoridades brasileiras após as informações sobre o desaparecimento do jornalista britânico.