Por Jake Spring e William James
SHARM EL-SHEIKH, Egito (Reuters) - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebido como uma estrela do rock na COP27 no Egito nesta quarta-feira, e prometeu envolver novamente o Brasil no combate à crise climática, além de oferecer sediar negociações climáticas da ONU no futuro.
"Quero dizer que o Brasil está de volta", disse Lula, atraindo gritos do público de delegados na cúpula internacional do clima no balneário de Sharm el-Sheikh.
Lula venceu a eleição presidencial no mês passado contra o atual presidente Jair Bolsonaro, que registrou em seu governo o maior período de destruição acumulada da floresta amazônica, além de ter se recusado a sediar a conferência climática de 2019, originalmente programada para o Brasil.
Lula, o ex-presidente que toma posse para seu terceiro mandato em janeiro, disse aos delegados que irá tentar fazer com que o Brasil receba a COP30 em 2025, e que tentará levar a conferência para uma sede na Amazônia.
A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, com mais de 6 milhões de quilômetros quadrados, absorve vastas quantidades de gases do efeito estufa, que, se liberados na atmosfera, podem explodir as metas climáticas globais.
"Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida", disse Lula, explicando que quer que as pessoas vejam a região. "Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030."
Entre o público no salão lotado estavam duas ex-ministras brasileiras do Meio Ambiente, parlamentares, governadores estaduais, ativistas e membros de comunidades indígenas em trajes típicos. O presidente da COP27, Sameh Shoukry, do Egito, levou Lula até o palco.
Lula enfatizou que as mudanças climáticas só podem ser abordadas lado a lado com a justiça social, com o público aplaudindo suas declarações sobre colocar fim às desigualdades e melhorar as condições para os povos nativos.
O petista também criticou os líderes mundiais por não priorizarem as mudanças climáticas, dizendo que eles ignoram alertas sobre a difícil condição do planeta enquanto gastam trilhões de dólares em guerras.
"O planeta a todo momento nos alerta de que precisamos uns dos outros para sobreviver", disse Lula.
"No entanto, ignoramos esses alertas. Gastamos trilhões de dólares em guerras que só trazem destruição e mortes, enquanto 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm o que comer."
Lula acrescentou que estava pedindo que os países ricos cumpram suas promessas do passado, de oferecer 100 bilhões de dólares ao ano para ajudar países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas e reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa.
Foi o segundo discurso do brasileiro na conferência na quarta-feira, ambos lotados de admiradores que gritavam "Lula! Lula!", estremecendo o espaço da conferência.
Lula se deslocou pela conferência com um leve esquema de segurança, chegando a estender as mãos para cumprimentar algumas pessoas que se aglomeravam à sua volta.
A ECO92, no Rio de Janeiro em 1992, estabeleceu o cenário para todos os grandes acordos internacionais ambientais desde então, com a assinatura da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas da ONU, com o objetivo de prevenir mudanças climáticas extremas, e marcou a fundação das reuniões hoje chamadas de COP.
A escolha de Lula de fazer da COP27 o foco de sua primeira viagem internacional desde que foi eleito ajudou a energizar as negociações da conferência neste ano.
"É muito positivo que ele tenha vindo aqui como presidente eleito, pois o atual presidente nunca veio a nenhuma COP", disse Carlos Nobre, climatologista da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo Nobre, Lula deve representar um giro de "180 graus" nas políticas ambientais de Bolsonaro.
O atual presidente apontou negacionistas climáticos como ministros e viu o desmatamento na Amazônia brasileira atingir picos de 15 anos.
Lula reduziu o desmatamento para mínimas históricas em seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010.
Para seu novo governo, o petista promete um plano amplo para restaurar a fiscalização ambiental, erodida por Bolsonaro, além da criação de empregos novos no setor ambiental.
Na terça, Lula se reuniu com o enviado especial do Clima dos EUA, John Kerry, e com o negociador chefe chinês na área, Xie Zhenhua. Ele deveria se reunir ainda com o chefe de políticas climáticas da UE, Frans Timmermans.
Na quinta, Lula se encontrará com grupos indígenas e da sociedade civil, assim como o secretário-geral da ONU, António Guterres. Ele parte na sexta-feira para Portugal, onde irá se reunir com autoridades locais.
(Reportagem de Jake Spring; reportagem adicional de William James e Dominic Evans)