Investing.com – Os juros não começaram a cair ainda, mas a expectativa em torno do início do ciclo de afrouxamento monetário vem impulsionando o mercado de ações brasileiro. Esse movimento de alta, no entanto, beneficia os papéis da bolsa de forma distinta. Enquanto o Ibovespa avançou 3,7% no mês de maio, o índice Small Caps da B3 (BVMF:B3SA3) saltou 13,54%. Esta diferença no desempenho deve persistir, na visão de analistas.
Em mais um episódio do podcast Estratégia de Carteira, disponível nas principais plataformas de áudio, o Investing.com Brasil detalhou as perspectivas para essa categoria de empresas de menor capitalização, que, segundo os especialistas, devem continuar o movimento de apreciação visto no último mês. Os entrevistados, no entanto, ponderam que antes de maio, as cotações vinham sendo penalizadas. “As small caps vinham perfomando mal, porque o cenário de incerteza foi agravado por situações do crédito, como o caso Americanas (BVMF:AMER3). Empresas com menor capitalização sofreram mais, porque demandam muito crédito”, lembra Régis Chinchila, analista da Terra.
O cenário para os juros melhorou, no entendimento dos analistas. Com o novo arcabouço fiscal e dados que mostram um arrefecimento da inflação, os economistas divergem sobre quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central começará a diminuir os juros, mas o cenário base é de que isso ocorra no segundo semestre deste ano. O último Boletim Focus, que reúne as projeções de economistas consultados pelo BC, indicava no dia 29 de maio uma Selic de 12,50% ao final do ano, contra os 13,75% atuais.
Foi a combinação de taxas mais baixas de juros futuros e uma melhor visibilidade sobre as perspectivas dos gastos do governo federal que trouxe otimismo para os ativos brasileiros, notadamente para as small caps, segundo reforçou em relatório a XP. “Como reflexo de um rali forte em ações de maior risco, também começamos a observar um desempenho sólido das small caps”, ressalta.
Phil Soares, analista da Órama, concorda com essa visão. A bolsa de valores brasileira teria sido impulsionada pela melhora da percepção fiscal e fechamento da curva de juros, com diminuição das incertezas.
“O que a gente tinha no início do ano, entre janeiro e março, era muita incerteza em relação ao Congresso e ao governo federal, e a aprovação do arcabouço fiscal reduz, quase elimina, o risco de algum evento de deterioração muito substancial, uma ruptura, o que era um temor muito grande por parte do mercado”.
Algumas das classes são mais impactadas pelos ciclos econômicos. “Podemos incluir empresas endividadas, aquelas que são muito expostas a negócios muito relacionados à atividade econômica do Brasil e as small caps. Elas possuem algumas particularidades devido ao seu valor de mercado reduzido, são menos olhadas pelo investidor de grande porte, são menos líquidas, então são mais impactadas. Muitas não vão bem do ponto de vista operacional, financeiro, o tamanho menor as insere em um pool mais frágil em termos de robustez econômica em comparação com as blue chips”, compara, explicando por quais motivos as small caps tendem a variar mais com essas mudanças.
Alta nas ações deve continuar?
Na visão dos especialistas consultados, sim. Para Soares, a perspectiva é de continuação dessa tendência. “Conforme o cenário venha se concretizando, o mercado vai premiar a bolsa proporcionalmente. As ações mais premiadas ainda devem ser as small caps com um timing para esse ano e ano que vem. Mesmo que com alguma volatilidade no meio do caminho, a expectativa é de melhora”.
Historicamente, momentos de quedas de juros são benéficos para o índice small caps, lembra Fernando Siqueira, head de research da Guide. “A composição do índice é voltada para empresas com foco no mercado interno, cíclicas, de varejo, construção, são bens sensíveis às oscilações nos juros, enquanto o índice Ibovespa tem um peso muito grande de empresas produtoras de commodities, voltadas para fora. Por isso há uma diferença clara entre os índices”, detalha. A velocidade da queda da inflação e a calibração das expectativas a respeito dos juros serão os grandes determinantes, assim como os resultados referentes ao segundo trimestre.
Como investir em small caps?
Além do menor valor de mercado, as small caps costumam apresentar menor liquidez e volume de negociação – por isso, tendem a ser mais voláteis. É possível investir em small caps por meio de fundos, por Exchange Traded Funds (ETFs), fundos que replicam índices de referência, como Índice Small Cap, com o ETF SMAL11, ou diretamente na bolsa de valores.
Caso o investidor priorize a escolha das ações, Soares orienta que haja um acompanhamento contínuo ou auxílio de um profissional de confiança. Um fundo com gestor ativo tende a ser uma boa opção, indica. Além disso, vale uma reflexão sobre o nível de tolerância de risco da carteira. “As small caps naturalmente vão ser uma alternativa mais volátil, então, vão trazer maior risco”, alerta.
O setor industrial e de logística são bem avaliados pelo analista da Órama, enquanto a Guide enxerga um futuro positivo para varejo, saúde e educação. A Terra opta por players diversificados entre construção, proteína animal e indústria, que podem ser impulsionados pela retomada da economia interna.
Confira as principais escolhas dos analistas em mais um episódio do podcast Estratégia de Carteira. Siga o Investing.com Brasil na sua plataforma de áudio preferida. Estamos no Spotify, Deezer, Apple e Google Podcasts.